domingo, 30 de setembro de 2007

Suspeita de envenenamento em Brasília Teimosa

Tiago Barbosa

A Polícia Civil deve instaurar inquérito para apurar um suposto caso de envenenamento de uma criança e um idoso que moram no bairro de Brasília Teimosa, na Zona Sul do Recife. Os dois deram entrada na emergência do Hospital da Restauração, no Derby, na tarde da última terça-feira com sintomas característicos de quem ingeriu substância tóxica. Informações registradas no boletim de ocorrência da unidade de saúde sustentam que o ex-comerciante Antônio Francisco de Barros, de 62 anos, e Samuel Nascimento de Alcântara, de apenas três, teriam passado mal após comer biscoitos compartilhados com o avô do garoto, identificado como Arnaldo Manuel de Alcântara - que também convalesceu.

O menino e o senhor receberam assitência no Centro de Atendimento Toxicológico. No final da tarde de ontem, Antônio teve alta. Até o fechamento desta edição, o garoto permanecia internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital em estado gravíssimo.

A Delegacia de Boa Viagem receberá, agora pela manhã, ofício da Gerência de Polícia da Capital relatando o caso. A ocorrência foi repassada, ontem, à Delegacia do Espinheiro, que concentra os dados obtidos no HR. O comunicado seguirá acompanhado de amostras do biscoito recolhidas por familiares das vítimas e entregues no posto policial do hospital. O delegado Evaristo Ferreira Neto disse que ainda não tinha conhecimento do episódio. Mas adiantou que, assim que receber a informação, vai dar início à investigação. O alimento será periciado pelo Instituto de Criminalística ou o Laboratório Central do Estado.

O ex-comerciante Antônio ainda sentia, ontem à noite, os efeitos do desgaste provocado pela comida que ingeriu. Ele falou com dificuldades sobre o momento em que dividiu os biscoitos com conhecidos. Segundo o ex-comerciante, ele e colegas estavam no porto de Brasília Teimosa na manhã da terça-feira. Um rapaz identificado como "Baé" entrou na cabine do barco de que era dono e disse ter encontrado os biscoitos. Havia dois pacotes: um de chocolate e outro simples, sem recheio. "Ele me entregou e eu reparti com Arnaldo e o neto. Duas horas depois, em casa, comecei a passar mal. Fiquei tonto, minhas pernas fraquejaram, vomitei", contou. Ele disse que não ofereceu o alimento a Baé, porque "ele o tinha achado", e que não havia razões para desconfiar. Antônio foi levado para o HR por familiares.

O pai do garoto, o designer Henrique Douglas Torres, não soube explicar o que ocorreu. Ele contou, somente, o socorro que prestou ao garoto. "Estava em casa, quando escutei os gritos da avó dele. Levei-o de carro para o hospital. No percurso, ele teve três paradas cardíacas e chegou desacordado ao HR", recordou. O pai afirmou ter sido informado por familiares que o garoto ingeriu cerca de cinco biscoitos, enquanto os outros teriam comido menos. Ele enfatizou que o menino não ingeriu qualquer substância tóxica ou remédio antes dos biscoitos.

Menino entre a vida e a morte

Das três pessoas que comeram o biscoito, a criança é a que sofreu os piores efeitos. Samuel está internado inconsciente, sob efeitos de sedativos e respira com ajuda de aparelhos. O diretor do HR, o médico Américo Ernesto Júnior, informou que o menino precisou tomar medicação e ser reanimado nas dependências da unidade de saúde. "O quadro é que, de uma forma geral, o estado dele é comprometido. Precisamos observar as próximas horas", declarou. Américo observou que somente um exame apurado da comida é capaz de determinar se houve envenenamento. Mas ele adiantou que os indícios sugerem uma reação semelhante à ingestão de chumbinho, venendo utilizado para matar ratos.

"O panorama sugere essa hipótese. O chumbinho é um produto que leva a síndrome colinérgica, ou seja, um conjunto de fatores específicos que indicam o envenenamento: pupilas pequenas, salivação, freqüência cardíaca fraca, diarréia e dor abdominal", explicou o médico. Américo registrou que o ex-comerciante Antônio reagiu bem ao tratamento e evoluiu. "Ele ficou consciente e orientado", avaliou. Arnaldo Alcântara, segundo parentes, provou um pedaço de um biscoito. Ele teria dito que o alimento lhe fez mal, mas tomou um pouco de leite e melhorou.

(escrita para ser publicada no dia 20 de setembro)

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Conselho decide pressionar Judiciário

Tiago Barbosa

Entidades que atuam na causa da criança e do adolescente decidiram pressionar o Judiciário para tentar modificar o andamento do processo em que é réu o ex-apresentador e comunicador Denny Oliveira, acusado de cometer abuso infanto-juvenil. Representantes das organizações se reuniram, ontem, no Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedca), nas Graças, no Recife, e conseguiram aprovar um documento para solicitar que o presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), Fausto Freitas, interfira e acelere o desfecho do caso. O pedido, que deve ser feito formalmente durante audiência a ser requisitada ao TJPE, cogita, até, a designação de um outro magistrado para avaliar a ação penal.

Os militantes não se conformam com o despacho do juiz da Vara Especializada em Crimes Contra a Infância e Juventude, Nivaldo Mulatinho, que negou, no final do mês passado, solicitação de prisão preventiva feita pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) contra Denny Oliveira. A promotoria criminal havia argumentado que uma das supostas vítimas - uma menina de 14 anos - sofreu um atentado dias antes de prestar depoimento. O incidente foi interpretado pela promotora Cristiane Medeiros como uma tentativa de intimidação por parte do acusado e, segundo ela, colocou sob ameaça a instrução criminal do processo.

Convidada a participar da reunião no Cedca, Cristiane explicou que a investida compromete a colhida da prova, uma vez que a adolescente, depois do suposto ataque, teria apresentado vontade de recuar da intenção de denunciar o apresentador. A menina iria depor no dia 28 de agosto e, de acordo com a promotora, foi seqüestrada durante horas por desconhecidos no mês de julho. Cristiane disse que vai recorrer da decisão de Mulatinho com um recurso em sentido estrito. A ação será apreciada pelo próprio juiz e, se ele mantiver a linha, seguirá para uma câmara criminal do TJPE. "Não é hora de fechar os olhos para um fato grave", afirmou a promotora.

Para a vice-presidente do Cedca, Eleonora Pereira, há processos em que, com menos indícios, os juízes concedem o pedido de prisão para não atrapalhar a instrução criminal. "Queríamos ter ouvido a justiça, mas ela não veio ao encontro. Isso mostra omissão. O tribunal está em xeque. O presidente do TJPE pode cobrar ou designar outro juiz. As vítimas estão angustiadas com a morosidade, a população inquieta", comentou.

Representantes das entidades criticaram o juiz Nivaldo Mulatinho por não concordar com o MPPE e classificaram o indeferimento dos pedidos de prisão como um aceno à impunidade nos crimes de abuso sexual contra crianças e adolescentes. O Centro Dom Hélder Câmara de Estudos e Ação Social (Cendhec) defende três das vítimas no processo. A advogada da instituição, Carla Ribeiro, levantou suspeita sobre a conduta do magistrado e insinuou que ele agiria para acobertar o apresentador. "Como é que, no dia em que ele deu o despacho, Denny e os advogados estavam no juizado? Estamos colocando em questionamento a postura do juiz, sua conduta. Atacaram justamente quem tinha uma história de violência sexual para contar", queixou-se a advogada. O coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos, Ivan Moraes Filho, disse que a entidade "repudia a postura do juiz que não tem agido com a isonomia que o cargo pede".

Mulatinho se irrita com acusações

O juiz Nivaldo Mulatinho se mostrou bastante irritado diante das acusações feitas pelas entidades quanto a sua postura e da decisão do Cedca em procurar o presidente do TJPE, Fausto Fretias, para tratar do processo envolvendo Denny Oliveira. Disse que é comum haver discordância em relação ao despacho de um magistrado. Mas declarou que a contestação deve ser feita como estabelece a lei. "Isso tem que ser discutido dentro do processo. Não é possível recorrer ao presidente. Ele nada pode fazer, não pode interferir na decisão, o que quebraria o devido processo legal. Se discordam da decisão, recorram, mas não ao presidente", enfatizou Mulatinho. O magistrado deu um recado aos que julgam que ele acoberta o apresentador: "Se acham isso, entrem com uma representação. Têm esse direito".

Mulatinho observou que, se a decisão tomada por ele parece sem fundamento, o tribunal irá derrubá-la. "Em vez de fazer esse carnaval todo, por que não recorreram?", questionou. O juiz disse que cada magistrado tem uma postura diferente e que não pode ser avaliado a partir do que os colegas de profissão fazem. Nivaldo não poupou críticas ao papel que vem desempenhando o Ministério Público. Para ele, a instituição quer condenar antes de julgar. "A promotoria se esqueceu que é de 'justiça' e não de 'acusação'. Não questionou se o rapaz é inocente. Quer mostrar serviço, prender de qualquer jeito. Mas, se fosse um 'zé ninguém', não faria nada. Por que foi designada uma promotora exclusiva para o caso, que não é especial em relação aos outros?" , indagou.

O magistrado também condenou a postura adotada pelo Cendhec no caso. "O Cendhec se tornou um órgão de acusação, quer que eu condene de qualquer jeito. Não deseja que eu examine o processo legal. E está iludindo esse pessoal (supostas vítimas)", disse. Para Mulatinho, há uma atmosfera de raiva rondando o processo. "Por que essa 'fúria' toda? Eles se julgam paladinos da justiça. A questão não tem nada a ver com direitos humanos", frisou. O juiz disse que, até agora, não vê motivos para prender Denny. "A preventiva é algo excepcional, quando há ameaça à ordem pública. Ele não apresentou periculosidade, não tem antecedentes criminais. A denúncia da garota é altamente duvidosa", explicou.

O juiz negou que a ação, iniciada no meio deste ano, estivesse parada. Disse que interrogou Denny Oliveira e a mãe da menina que se disse atacada. Só não deu continuidade por conta da greve deflagrada pelos servidores do Judiciário. O processo está na fase da ouvida das testemunhas arroladas pelo MPPE. Em seguida, será a vez das pessoas indicadas pela defesa. Diligências finais e alegações complementam o percurso da ação, que será finalizada com a sentença. "Lamento que coloquem em evidência algo que devia ser sigiloso. A tensão emocional, que já é normal, vai ficar ainda maior", concluiu.

(escrito para ser publicado em 13 de set, quinta-feira)

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Assistência chama concursados até março

Tiago Barbosa

A Secretaria de Assistência Social (SAS) da Prefeitura do Recife anunciou, ontem, os nomes das 229 pessoas classificadas no concurso que promoveu em agosto para substituir os trabalhadores temporários. Os selecionados começam a ser chamados em outubro, depois do processo de homologação do concurso. Eles serão convocados por grupos e pela ordem de classificação, a partir da necessidade verificada pelo órgão nas suas ramificações.

A SAS atua em 12 centros de referência, quatro centros sociais urbanos, seis gerências regionais, além de um corpo administrativo da direção. Essa é a primeira vez que a secretaria realiza um concurso público para acolher servidores em seu quadro de pessoal. Até então, ela funcionou com trabalhadores cedidos por outras autarquias e funcionários temporários. O secretário Paulo Dantas avisou que, à medida que forem sendo trocados pelos novos servidores, os empregados provisórios não terão seus contratos renovados.

Antes de assumir, os concursados deverão ser submetidos a um treinamento que deve durar, no mínimo, trinta dias. "É a transição para conhecer a realidade da função em que irão atuar", justificou Dantas. Serão 55 assistentes sociais, 37 psicólogos, 20 pedagogos, 14 sociólogos e o restante posto administrativo. Nível superior vai receber R$ 1050 e médio, R$ 525. Todos os cargos, garantiu o secretário, serão ocupados. Mas a chamada por grupos deve retardar a conclusão da lista com os nomes até o mês de março do ano que vem. "Esperamos zerar o déficit, mas, se for o caso, vamos solicitar mais vagas", adiantou Paulo Dantas.

O concurso tem validade de dois anos e pode ser prorrogado por um tempo igual. Das mais de 14 mil pessoas inscritas, 5,4 mil foram aprovadas e formarão um banco de reserva para alimentar as vagas que surgirem. "O nível das provas mostra que temos um material humano muito bom, de qualidade elevada", observou Antônio Fernando Barros, presidente do IPAD, entidade responsável pela seleção.

Para o secretário Paulo Dantas, a contratação de servidores é um ganho para o órgão que ele dirige. "Assistência social é política de estado. Tem que ser algo permanente, não pode ser alterada", frisou. Ele explicou que os novos funcionários vão desenvolver atividades nas comunidades carentes com o propósito de "fortalecer a família" e combater o trabalho infanto-juvenil. O Instituto de Assistência Social e Cidadania (Iasc), ligado à secretaria, realizou concurso, recentemente, para contratar 238 servidores. Cabe ao órgão fazer atendimentos de média e alta complexidade em relação à população desfavorecida sócio-economicamente do Recife.

(escrito para ser publicado na terça, 11 de set)

Confusão em show de Rei da Pisadinha

Tiago Barbosa

A polícia vai investigar uma confusão verificada durante um show realizado no Clube Municipal Paulo Ramos Menezes, conhecido como "Paulão", sábado, em Condado, na Mata Norte do Estado, a 87 quilômetros do Recife. A platéia acusou os organizadores do evento de usar um falsário no lugar da atração conhecida como "Rei da Pisadinha", prometida no ingresso. Inconformados com o suposto engano, espectadores vaiaram o artista que subiu ao palco, quebraram os portões de acesso às dependências do local e danificaram o veículo dos produtores da festa. O peugeot verde foi posto de cabeça para baixo e queimado. Os idealizadores do show só conseguiram escapar da fúria da multidão porque a Polícia Militar os escoltou até um lugar seguro. O inquérito instaurado pela delegacia da cidade quer saber se eles agiram de má-fé na contratação do "Rei da Pisadinha".

O delegado Salatiel Patrício colheu, ontem, depoimentos entre o público e confirmou que a insurgência começou pouco depois de o artista subir ao palco. Ele informou que a perícia vai avaliar os estragos provocados no clube e os danos ao patrimônio dos organizadores. Disse que pretende analisar a validade do contrato firmado entre a produtora que agendou o evento e a atração para saber se há alguma irregularidade. "Vamos avaliar se o provável erro foi proposital e conferir quem se responsabiliza pelas depredações. O artista não era o esperado, e os organizadores vão dizer o porquê", comunicou.

Perto de mil pessoas compareceram à apresentação. Os ingressos foram vendidos por R$ 6 (individual) e R$ 10 (casal) e indicavam que a festa foi organizada pela RG Produções. A proprietária da produtora, professora Rute Carvalho Jucá Leite, disse à reportagem que não teve intenção de enganar o público. Ela realiza eventos na cidade há cinco anos e é, também, dona de um colégio para alunos do ensino fundamental. Rute alegou que "não conhecia o Rei da Pisadinha" e que costuma fechar contrato com uma pessoa de confiança, que lhe intermedia os shows. "Não sei se ele toca brega ou forró. Mas não quis enganar. Tanto que fui com minha família no local e com meu carro. Estava na bilheteria, dividindo os valores, quando percebi o tumulto", contou. Rute disse que não teve coragem de olhar o carro queimado e que chegou a ser ameaçada na rua, no domingo.

(escrito para ser publicado na terça, 11 de set)

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Tubarão: Pernambuco faz um ano e dois meses sem ataque

Tiago Barbosa

Pernambuco completa, hoje, um ano e dois meses sem registrar um ataque de tubarão. O período é o segundo maior desde que os incidentes começaram a ser contabilizados oficialmente - em junho de 1992 -, garante o Centro de Monitoramento de Incidentes com Tubarão (Cemit), que realizou ações preventivas durante o feriadão do final de semana passado. A maior trégua dada pelo animal, diz o órgão, foi o intervalo entre setembro de 2004 e abril de 2006. A última vítima computada no Estado foi um cadáver que surgiu boiando na praia do Paiva - na parte sul da Região Metropolitana do Recife - em julho do ano passado. Não se sabe ainda, contudo, em que faixa do litoral o corpo foi surpreendido pela espécie marítima.

A diminuição dos registros de ataques é fruto da conscientização crescente dos banhistas, sustenta o o presidente do Instituto Oceanário de Pernambuco, Alexandre Carvalho. Diz ele que as práticas educativas têm surtido efeito. Mas alerta que ainda não é hora de arrefecer. "A postura mudou, embora tenhamos um longo caminho pela frente. Temos que conseguir fazer de cada pessoa um multiplicador de orientações. É como a campanha para colocar o cinto de segurança. No começo, as pessoas não queriam. Hoje, é quase automático ao se entrar em um carro", observa. A maior incidência de ataques foi constatada num espaço de menos de 20 quilômetros situado entre o Pina e a igreja de Piedade - responde por 78% das 50 ocorrências.

O especialista adverte que, até o final de setembro, uma série de fatores ambientais sugere a manutenção da cautela antes de se tomar banho de mar. Explica que existe um canal adjacente à praia, com seis a oito metros de profundidade, que facilita o trânsito dos tubarões. A área sofre interferência da descarga do rio Jaboatão, cujo teor de água doce atrai espécies do tipo cabeça chata e tigre. São animais que não se incomodam, também, com os altos índices de poluição da água e, sendo assim, costumam passear próximo à praia. "A grande quantidade de chuvas torna a água mais doce e turva. Isso confunde os tubarões, que não sabem distinguir entre suas presas e os seres humanos", acrescenta Alexandre.

Para evitar a exposição aos animais, o especialista recomenda seguir alguns cuidados. Evitar entrar na água durante o amanhecer e ao cair da tarde, não se molhar quando tiver algum ferimento sangrando, não nadar sozinho nem quando estiver embriagado. "É preciso manter a guarda. Se, por um lado, o período chuvoso está acabando, vale alertar que o verão atrai uma maior quantidade de pessoas às praias, o que se torna outro fator de risco", diz Alexandre. O Cemit planeja ações de conscientização para implantar até o mês de maio do ano que vem.

(escrito para ser publicado na segunda, 10 de set)

BR 101 Sul concentra acidentes no feriadão

Tiago Barbosa

A BR-101 Sul concentrou, durante o feriadão de sete de setembro, a maior parte dos acidentes entre as 13 rodovias federais que cortam o Estado. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) contabilizou na via dez ocorrências, com a mesma quantia de pessoas feridas, entre a madrugada da quinta-feira e o último balanço feito pelo órgão no domingo, às 16h. Os números equivalem a 20% de todos os acidentes registrados em Pernambuco e pouco menos da metade dos casos em que foram feitas vítimas não-fatais. O chefe de Comunicação Social da PRF, inspetor Éder Rommel, disse que os incidentes foram centralizados nos trechos que dão acesso às praias. Para ele, uma conjunção de fatores - que vão das condições da pista até os abusos cometidos pelos motoristas - tornou o espaço mais perigoso.

"O excesso de buracos na via obriga o motorista a desviar e surpreende os menos atentos. A partir do Cabo de Santo Agostinho, a BR deixa de ser mão dupla. Há trechos em que a faixa da direita está prejudicada e os veículos mais lentos têm que seguir pela esquerda, causando demora e as retenções que incentivam as ultrapassagens", observou Éder. O dano à pista seria provocado, diz o inspetor, pelo abuso de caminhoneiros que transportam um peso muito acima do permitido e o execesso de carros em circulação: a PRF computou 70 mil automóveis trafegando pela rodovia, enquanto o limite fica na casa dos 30 mil.

Apesar da BR 101-Sul, o balanço geral da PRF revelou que o feriadão deste ano foi mais calmo numa comparação realizada com o mesmo período do ano passado. Diminuíram os registros de acidentes, caíram pela metade as ocorrências de feridos e diminuiu o número de mortos em face de colisões, atropelamentos ou capotagens.

A polícia contabilizou, em 2007, 50 acidentes, com 25 pessoas feridas e três mortas. Em Garanhuns, uma mulher que seguia com uma criança na garupa de um mototaxista foi atropelada por um caminhão, na sexta, e faleceu. Simone Patrícia Silvestre Monte Belo Félix, de 28 anos, conseguiu, no entanto, sacudir o jovem e salvá-lo da morte. Em Caruaru, Wilson José da Silva, de 19 anos, padeceu num acidente com uma moto. Uma pessoa também morreu em São Caetano, no quilômetro 178, ontem, mas, até o fechamento desta edição, ela não havia sido identificada.

A análise final sairá com a apreciação das informações levantadas até a 0h de hoje. No ano passado, foram 57 incidentes, que deixaram feridos 51 indivíduos e quatro mortos. Vale frisar que, em 2006, o Dia da Independência caiu numa quinta-feira, ou seja, o fluxo de veículos foi acrescido em um dia.

O inspetor Éder Rommel disse que não se pode desprezar a ligeira queda nos acidentes, uma vez que a frota de veículos em circulação tem crescido anualmente. Mas ele não atribui a redução à conscientização por parte dos motoristas e, sim, à presença maciça do policiamento ao longo das rodovias - 450 homens em 60 viaturas ajudaram a inibir os abusos. Segundo Rommel, este ano a PRF contou com a ajuda de dois helicópteros. Uma vítima foi socorrida de Tamandaré, litoral sul do Estado, para o Hospital da Restauração, no Derby, no Recife, depois de ser atropelada por um quadriciclo pilotado por um adolescente.

(escrito para ser publicado na segunda, 10 de set)

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Secretário assume e promete continuidade

por Tiago Barbosa

A solenidade no Palácio do Campo das Princesas serviu, também, para empossar o novo secretário de Defesa Social, o delegado da Polícia Federal (PF) Servilho Silva de Paiva, de 48 anos. Ele ocupava o cargo de secretário-executivo da pasta, mas foi promovido em função da saída do também delegado federal Romero Lucena de Meneses.

Depois de oito meses à frente da SDS, o agora ex-secretário foi convocado pelo novo diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa, para assumir a cadeira de diretor geral de Operações, segundo cargo na hierarquia da corporação policial. Foi a primeira vez que a gestão Eduardo Campos se viu forçada a alterar o escalão mais alto do governo. A Secretaria-executiva será dirigida por outro delegado federal: Cláudio Coelho de Lima.

Apesar da mudança, a condução da SDS não deve ser alterada. Ao ser nomeado, Servilho prometeu dar continuidade ao trabalho que vinha sendo feito por Romero Meneses. Ambos são amigos e fizeram questão de demonstrar afinidade. Tanto que Romero chegou a chamar Servilho de sua "consciência profissional". O novo secretário disse que o Pacto pela Vida vai balizar sua atuação. Cearense, Paiva mora no Recife há 21 anos. É formado em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Ingressou na Polícia Federal como agente no final da década de 1970, mas só se tornou delegado depois de prestar concurso em 1990. No currículo, acumula experiência em trabalho nas superintendências da Paraíba, de Sergipe e Pernambuco.

Ao se despedir, Romero Meneses criticou o que herdou na área da segurança pública e expôs as mudanças que empreendeu. Disse que os batalhões militares estavam "desmontados" e as delegacias se assemelhavam a "masmorras". Reclamou do que chamou de "tentativa de privatizar a polícia", ao dizer que ela servia a poucos, e da "deficiência na gestão, com o desrespeito à promoção na hierarquia militar". Queixou-se que 70% da frota estavam sucateadas.

"Construímos o Pacto pela Vida que, apesar das críticas, é um norte para nossas ações, vamos entregar o batalhão de Boa Viagem no próximo mês, criamos o Sistema Estadual de Inteligência, e atuamos para recuperar a auto-estima dos policiais", citou. Romero disse que sua saída não representa uma perda de poder da SDS. "Os que achavam que iam recuperar espaço estão enganados. Não há limite para o apoio à SDS. A interinidade é dos bandidos", avisou. O governador Eduardo Campos disse que estava satisfeito com os serviços prestados por Romero e anunciou que Servilho Paiva terá "carta branca" para enfrentar a criminalidade.

(escrito para ser publicado em 7 de setembro)

Governo federal lança Pronasci em Pernambuco

por Tiago Barbosa

O ministro da Justiça, Tarso Genro, veio ao Estado em companhia do novo diretor da Polícia Federal (PF), Luiz Fernando Corrêa, e detalhou os principais pontos do Pronasci. A medida reúne 94 projetos sociais e ações para combater a criminalidade. Destina-se, prioritariamente, ao atendimento das 11 regiões metropolitanas mais violentas do País, entre elas a do Recife.

A RMR será beneficiada com atenção às cidades de Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho, Paulista, Olinda e Recife. Em quatro anos, a União pretende investir, em nível nacional, R$ 6,707 bilhões - R$ 483 milhões somente neste ano. Tarso Genro disse que os recursos estão garantidos e representam um acréscimo de R$ 1,3 bilhão ao orçamento previamente estipulado. "É o mais elevado para o ano que vem", assegurou. O repasse será vinculado à apresentação dos projetos pelos estados, encarregados de coordenar os programas. Cerca de R$ 15 milhões vão, adiantou o gerente de Articulação Institucional da SDS, Manoel Caetano, para a pasta utilizar em quatro anos.

Tarso classificou o Pronasci como um "novo paradigma na segurança pública" e observou que ele aponta na mesma direção do Pacto pela Vida, plano do governo pernambucano para amenizar os altos índices de delitos. Disse que o diferencial em relação a programas criados anteriormente está no conjunto de projetos que engloba. "Não tem nenhuma criação genial. Em algum lugar do mundo, um desses projetos foi experimentado. A distinção é que não estavam dentro de uma concepção sistêmica", esclareceu. Tarso também frisou que o Pronasci se destaca por envolver as cidades para executar as ações. As administrações municipais poderão ser ajudadas com verbas para tocar iniciativas voltadas para a diminuição da violência. O recurso também vai bater à porta dos estados que apresentarem vontade de tocar propostas anticrime.

Os efeitos do plano, advertiu o ministro, não deverão ser sentidos a curto prazo. Serão notados dentro de, até, quatro anos. Mas Tarso adiantou que vai mobilizar esforços para que a criminalidade continue a ser combatida. Efetivo da Força Nacional de Segurança está preparado, de acordo com ele, para ajudar as polícias estaduais. "Quando tiver que disputar territórios com o crime organizado, vamos fazê-lo. Basta que os governos nos solicitem o apoio. Quinhentos homens da Força ficarão à disposição para dar conta deste trabalho", avisou. Pernambuco ocupa um dos primeiros lugares do ranking da violência no País, com a taxa de 70 homicídios por 100 mil habitantes. Há mais de uma década que a média anual de mortes violentas fica superior aos quatro mil casos.

(escrito para ser publicado em 7 de setembro)

União vai financiar presídio para jovem

Tiago Barbosa

O ministro da Justiça, Tarso Genro, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, assinaram, ontem, no Palácio do Campo das Princesas, no Recife, um convênio de cooperação para viabilizar a construção, no Estado, de uma unidade prisional dedicada exclusivamente a jovens entre 18 e 24 anos. A penitenciária demandará um aporte federal de R$ 12 milhões e terá capacidade para acomodar 400 detentos. A idéia de tratar de forma diferenciada os jovens é um dos focos do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci), lançado no mês passado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. O plano se propõe a combinar projetos sociais com ações de combate à criminalidade. Detalhes da iniciativa da União foram explicados pelo ministro a gestores locais durante visita que ele fez ao Recife.

Genro justificou o apreço especial pelos jovens em função de estatísticas que apontam serem eles a maior fatia do sistema prisional. Números apresentados pelo ministro atestam que os jovens respondem por 65% da população carcerária e, quando postos em liberdade, reincidem no crime em 70% das vezes. A Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) do Estado informou que os rapazes entre 18 e 30 anos correspondem a 36% dos detentos. Não se sabe, alega a Seres, quantos estão na margem de atendimento definida pelo Governo Federal. A decisão de separar os jovens das unidades prisionais comuns se traduz como uma tentativa da União de evitar o contato entre o público juvenil e bandidos mais experientes. Genro enxerga a interrupção da influência como uma forma de estancar o aliciamento para o crime organizado.

A unidade prisional juvenil terá um projeto arquitetônico especial e será erguida, a priori, em uma área da RMR ainda mantida sob sigilo pelo governo. O secretário-executivo de Ressocialização, coronel Humberto Viana, ponderou, no entanto, que o espaço pode ser qualquer outro de Pernambuco. Uma área que pertence ao governo em Araçoiaba está sendo analisada, assim como um terreno colocado à disposição pela cidade de Mirandiba. A escolha será feita depois de uma avaliação técnica do projeto que está em posse do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Viana se encontrou com representantes do órgão e revelou que é possível iniciar as obras ainda este ano. Uma vez construído, o presídio será lotado com jovens que já cumprem pena em unidades pernambucanas. O secretário adiantou que um centro semelhante deverá ser edificado para acolher mulheres nessa faixa etária. O esboço voltado ao público feminino se encontra sob análise do Depen.

A atenção ao jovem também deverá ser estendida para além dos muros do sistema prisional. O ministro afirmou que o governo pretende trabalhar com "aqueles que não querem o programa, que estão sendo seduzidos pelo crime". O secretário-executivo do Pronasci, Ronaldo Teixeira, especificou que entram na lista de prioridades "jovens presos, egressos do sistema prisional, em situação infracional e adolescentes em conflito com a lei. Na verdade, uma faixa de 15 a 29 anos". "Queremos, ainda, transformar o jovem oriundo do serviço militar em agente comunitário", afirmou Ronaldo.

(escrito para ser publicado em 7 de setembro)

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Mente também precisa de malhação

Tiago Barbosa

Senhas de banco, números de telefone, horários de compromissos, nomes de conhecidos. Relatórios, estudos, pesquisas, noticiários. O império dos dados exerce seu domínio sobre a sociedade e a situa, permanentemente, diante de um desafio: acompanhar o crescente volume de informações que, todos os dias, perpassam o cotidiano. Amplificada pela internet, a produção contínua de conteúdo exige do cérebro humano mais vigor na capacidade de memorizar os detalhes da vida e velocidade para se inteirar da gama de assuntos que rodeiam as relações humanas e profissionais. Como dar conta de toda sorte de temas sem sucumbir aos “esquecimentos” que insistem em surpreender? Há quem diga que treinamento da memória e técnicas de leitura oferecem ajuda aos que são atropelados pelo ritmo frenético da proliferação da informação.

A lógica se apóia numa simples comparação: a memória é como se fosse um músculo. Sem exercício, ela se atrofia. Perde paulatinamente a função de armazenar dados e gera, no mínimo, dificuldades para o seu dono. Isso sem se referir às situações embaraçosas quando a falha no arquivo mental faz esquecer, num encontro casual, o nome de um amigo que se viu quando pequeno ou não recordar, tão somente, o local onde foram guardadas as chaves de casa. Para especialistas, esse tipo de problema é mais comum do que se imagina. Mas ele tem salvação. A saída é investir numa ginástica restrita aos limites da cabeça. “A memória precisa de prática constante, uma malhação diária. Exercícios para que desempenhe bem seu papel”, aposta o professor e jornalista Mauro Alessi, que ministra, há mais de 15 anos, cursos destinados ao aperfeiçoamento do poder de memorizar e ler de forma dinâmica.

Antes de lançar os neurônios à academia, no entanto, é preciso identificar se há, de fato, tropeços da memória que justifiquem a procura pelo exercício. Em geral, diz o professor, verifica-se o distúrbio quando se começa a perder do pensamento informações que, até bem pouco tempo atrás, flutuavam na ponta da língua. Melhor, do raciocínio. “Os primeiros indícios são percebidos ao se esquecer o telefone dos irmãos, por exemplo, ou outro tipo de dado cuja utilização é corriqueira. O problema existe se complica a vida da pessoa”, explica. O fenômeno pode ser anotado em qualquer idade. Mas é necessário investigar se, no caso dos mais idosos, ele não é fruto do Mal de Alzheimer, uma doença degenerativa que leva o enfermo a apagar a memória gradativamente.

O professor sustenta que, se o comprometimento não for clínico, é possível tomar posse de um comportamento que aprimore o papel da mente. A preocupação com a precisão da memória pertence à história. Mauro Alessi aponta que, desde a Grécia Antiga, os pensadores sofistas engrenavam técnicas para garantir a memorização dos argumentos que desfilavam em praça pública. Hoje, a receita inicial passa por um hábito ainda caro ao brasileiro: a leitura. A prática é definida como o primeiro passo para quem quer diminuir as chances de esquecer. “Deve-se ler sempre. Todos os dias”, sugere o especialista.

A capacidade de memorizar, acredita Mauro, trabalha sobre quatro pilares: concentração, observação, imaginação e organização. Se um desses falhar, a função de armazenamento fica prejudicada. “Nossa memória se baseia em detalhes, na imaginação. É possível trabalhar isso”, defende. Para o professor, um curso destinado ao aprimoramento da memorização consegue desenvolver esse alicerce mental e reforçá-lo. “Nós conseguimos mudar a maneira de programar e consultar as informações no cérebro para que a pessoa faça uso da função a qualquer hora”, afirma. A mudança passa por um caminho que é individual a quem se aventura pelos exercícios com o cérebro. “As técnicas ajudam a seguir a rota que a pessoa escolhe”, observa.

Leitura também pode ser melhorada

Acostumado à rotina exaustiva dos palcos, o cantor e compositor romântico Adilson Ramos sentia dificuldade mesmo era diante da tela. Não conseguia acompanhar as legendas dos filmes a que assistia, que sumiam antes de ele acabar de ler. Transtornos como não saber onde foram guardadas as chaves da residência também começaram a incomodar o artista. Até que ele decidiu se submeter a um curso para treinar a memória e acelerar a leitura. O resultado: “Agora, estou bem melhor. Se vejo uma senha, decoro logo. Não tem aquele sofrimento na hora de fazer uma transferência ou pagamento. Leio com mais facilidade”. E brinca: “Só não dá para guardar os nomes dos fãs, que são muitos, mas é possível saber pelo rosto quem já me assistiu antes”.

A gênese de ler em ritmo lento está na infância, acredita o professor Mauro Alessi. Diz ele que a escola ensina a associar leitura e a fala. Mesmo quando os professores determinam aos alunos que leiam em silêncio, a pronúncia é feita mentalmente, defende. “O método tradicional tem esse empecilho. Mas é admissível reprogramar o cérebro para que ele omita a fala enquanto se lê. É só mudar o condicionamento e controlar a velocidade, que chega a aumentar em até vinte vezes”, explica Mauro. Exemplo citado por ele é o próprio cinema, em que “a pessoa consegue ler e observar as imagens sem a necessidade de reler para entendê-lo”.

O especialista frisa que, desde a década de 30, há uma técnica que associa as imagens às palavras para substituir a pronúncia no momento da leitura. “A imaginação é o combustível para isso. Nós pensamos através dela. Se eu disser: ‘não pense em um elefante, você vai deixar de imaginá-lo?’”, indaga. Para o professor, a preocupação com a velocidade da leitura é inerente ao desenvolvimento da sociedade e sua conseqüente produção de conteúdo. “As informações aumentam a cada dia, mas a metodologia de leitura continua sendo aquela de cem anos atrás. Não se pode estudar mais do mesmo jeito”, argumenta. Mauro advoga que qualquer um – da dona de casa ao estudante que deseja passar em um concurso público – tenha direito a melhorar o poder de processar os dados na leitura e memória. “Esquecer é desagradável”, diz.

Serviço
Outras informações: IAP – Aperfeiçoamento profissional - 3221 3001

(escrita para ser publicada na segunda, 3 de setembro)