domingo, 30 de setembro de 2007

Suspeita de envenenamento em Brasília Teimosa

Tiago Barbosa

A Polícia Civil deve instaurar inquérito para apurar um suposto caso de envenenamento de uma criança e um idoso que moram no bairro de Brasília Teimosa, na Zona Sul do Recife. Os dois deram entrada na emergência do Hospital da Restauração, no Derby, na tarde da última terça-feira com sintomas característicos de quem ingeriu substância tóxica. Informações registradas no boletim de ocorrência da unidade de saúde sustentam que o ex-comerciante Antônio Francisco de Barros, de 62 anos, e Samuel Nascimento de Alcântara, de apenas três, teriam passado mal após comer biscoitos compartilhados com o avô do garoto, identificado como Arnaldo Manuel de Alcântara - que também convalesceu.

O menino e o senhor receberam assitência no Centro de Atendimento Toxicológico. No final da tarde de ontem, Antônio teve alta. Até o fechamento desta edição, o garoto permanecia internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital em estado gravíssimo.

A Delegacia de Boa Viagem receberá, agora pela manhã, ofício da Gerência de Polícia da Capital relatando o caso. A ocorrência foi repassada, ontem, à Delegacia do Espinheiro, que concentra os dados obtidos no HR. O comunicado seguirá acompanhado de amostras do biscoito recolhidas por familiares das vítimas e entregues no posto policial do hospital. O delegado Evaristo Ferreira Neto disse que ainda não tinha conhecimento do episódio. Mas adiantou que, assim que receber a informação, vai dar início à investigação. O alimento será periciado pelo Instituto de Criminalística ou o Laboratório Central do Estado.

O ex-comerciante Antônio ainda sentia, ontem à noite, os efeitos do desgaste provocado pela comida que ingeriu. Ele falou com dificuldades sobre o momento em que dividiu os biscoitos com conhecidos. Segundo o ex-comerciante, ele e colegas estavam no porto de Brasília Teimosa na manhã da terça-feira. Um rapaz identificado como "Baé" entrou na cabine do barco de que era dono e disse ter encontrado os biscoitos. Havia dois pacotes: um de chocolate e outro simples, sem recheio. "Ele me entregou e eu reparti com Arnaldo e o neto. Duas horas depois, em casa, comecei a passar mal. Fiquei tonto, minhas pernas fraquejaram, vomitei", contou. Ele disse que não ofereceu o alimento a Baé, porque "ele o tinha achado", e que não havia razões para desconfiar. Antônio foi levado para o HR por familiares.

O pai do garoto, o designer Henrique Douglas Torres, não soube explicar o que ocorreu. Ele contou, somente, o socorro que prestou ao garoto. "Estava em casa, quando escutei os gritos da avó dele. Levei-o de carro para o hospital. No percurso, ele teve três paradas cardíacas e chegou desacordado ao HR", recordou. O pai afirmou ter sido informado por familiares que o garoto ingeriu cerca de cinco biscoitos, enquanto os outros teriam comido menos. Ele enfatizou que o menino não ingeriu qualquer substância tóxica ou remédio antes dos biscoitos.

Menino entre a vida e a morte

Das três pessoas que comeram o biscoito, a criança é a que sofreu os piores efeitos. Samuel está internado inconsciente, sob efeitos de sedativos e respira com ajuda de aparelhos. O diretor do HR, o médico Américo Ernesto Júnior, informou que o menino precisou tomar medicação e ser reanimado nas dependências da unidade de saúde. "O quadro é que, de uma forma geral, o estado dele é comprometido. Precisamos observar as próximas horas", declarou. Américo observou que somente um exame apurado da comida é capaz de determinar se houve envenenamento. Mas ele adiantou que os indícios sugerem uma reação semelhante à ingestão de chumbinho, venendo utilizado para matar ratos.

"O panorama sugere essa hipótese. O chumbinho é um produto que leva a síndrome colinérgica, ou seja, um conjunto de fatores específicos que indicam o envenenamento: pupilas pequenas, salivação, freqüência cardíaca fraca, diarréia e dor abdominal", explicou o médico. Américo registrou que o ex-comerciante Antônio reagiu bem ao tratamento e evoluiu. "Ele ficou consciente e orientado", avaliou. Arnaldo Alcântara, segundo parentes, provou um pedaço de um biscoito. Ele teria dito que o alimento lhe fez mal, mas tomou um pouco de leite e melhorou.

(escrita para ser publicada no dia 20 de setembro)

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Conselho decide pressionar Judiciário

Tiago Barbosa

Entidades que atuam na causa da criança e do adolescente decidiram pressionar o Judiciário para tentar modificar o andamento do processo em que é réu o ex-apresentador e comunicador Denny Oliveira, acusado de cometer abuso infanto-juvenil. Representantes das organizações se reuniram, ontem, no Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedca), nas Graças, no Recife, e conseguiram aprovar um documento para solicitar que o presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), Fausto Freitas, interfira e acelere o desfecho do caso. O pedido, que deve ser feito formalmente durante audiência a ser requisitada ao TJPE, cogita, até, a designação de um outro magistrado para avaliar a ação penal.

Os militantes não se conformam com o despacho do juiz da Vara Especializada em Crimes Contra a Infância e Juventude, Nivaldo Mulatinho, que negou, no final do mês passado, solicitação de prisão preventiva feita pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) contra Denny Oliveira. A promotoria criminal havia argumentado que uma das supostas vítimas - uma menina de 14 anos - sofreu um atentado dias antes de prestar depoimento. O incidente foi interpretado pela promotora Cristiane Medeiros como uma tentativa de intimidação por parte do acusado e, segundo ela, colocou sob ameaça a instrução criminal do processo.

Convidada a participar da reunião no Cedca, Cristiane explicou que a investida compromete a colhida da prova, uma vez que a adolescente, depois do suposto ataque, teria apresentado vontade de recuar da intenção de denunciar o apresentador. A menina iria depor no dia 28 de agosto e, de acordo com a promotora, foi seqüestrada durante horas por desconhecidos no mês de julho. Cristiane disse que vai recorrer da decisão de Mulatinho com um recurso em sentido estrito. A ação será apreciada pelo próprio juiz e, se ele mantiver a linha, seguirá para uma câmara criminal do TJPE. "Não é hora de fechar os olhos para um fato grave", afirmou a promotora.

Para a vice-presidente do Cedca, Eleonora Pereira, há processos em que, com menos indícios, os juízes concedem o pedido de prisão para não atrapalhar a instrução criminal. "Queríamos ter ouvido a justiça, mas ela não veio ao encontro. Isso mostra omissão. O tribunal está em xeque. O presidente do TJPE pode cobrar ou designar outro juiz. As vítimas estão angustiadas com a morosidade, a população inquieta", comentou.

Representantes das entidades criticaram o juiz Nivaldo Mulatinho por não concordar com o MPPE e classificaram o indeferimento dos pedidos de prisão como um aceno à impunidade nos crimes de abuso sexual contra crianças e adolescentes. O Centro Dom Hélder Câmara de Estudos e Ação Social (Cendhec) defende três das vítimas no processo. A advogada da instituição, Carla Ribeiro, levantou suspeita sobre a conduta do magistrado e insinuou que ele agiria para acobertar o apresentador. "Como é que, no dia em que ele deu o despacho, Denny e os advogados estavam no juizado? Estamos colocando em questionamento a postura do juiz, sua conduta. Atacaram justamente quem tinha uma história de violência sexual para contar", queixou-se a advogada. O coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos, Ivan Moraes Filho, disse que a entidade "repudia a postura do juiz que não tem agido com a isonomia que o cargo pede".

Mulatinho se irrita com acusações

O juiz Nivaldo Mulatinho se mostrou bastante irritado diante das acusações feitas pelas entidades quanto a sua postura e da decisão do Cedca em procurar o presidente do TJPE, Fausto Fretias, para tratar do processo envolvendo Denny Oliveira. Disse que é comum haver discordância em relação ao despacho de um magistrado. Mas declarou que a contestação deve ser feita como estabelece a lei. "Isso tem que ser discutido dentro do processo. Não é possível recorrer ao presidente. Ele nada pode fazer, não pode interferir na decisão, o que quebraria o devido processo legal. Se discordam da decisão, recorram, mas não ao presidente", enfatizou Mulatinho. O magistrado deu um recado aos que julgam que ele acoberta o apresentador: "Se acham isso, entrem com uma representação. Têm esse direito".

Mulatinho observou que, se a decisão tomada por ele parece sem fundamento, o tribunal irá derrubá-la. "Em vez de fazer esse carnaval todo, por que não recorreram?", questionou. O juiz disse que cada magistrado tem uma postura diferente e que não pode ser avaliado a partir do que os colegas de profissão fazem. Nivaldo não poupou críticas ao papel que vem desempenhando o Ministério Público. Para ele, a instituição quer condenar antes de julgar. "A promotoria se esqueceu que é de 'justiça' e não de 'acusação'. Não questionou se o rapaz é inocente. Quer mostrar serviço, prender de qualquer jeito. Mas, se fosse um 'zé ninguém', não faria nada. Por que foi designada uma promotora exclusiva para o caso, que não é especial em relação aos outros?" , indagou.

O magistrado também condenou a postura adotada pelo Cendhec no caso. "O Cendhec se tornou um órgão de acusação, quer que eu condene de qualquer jeito. Não deseja que eu examine o processo legal. E está iludindo esse pessoal (supostas vítimas)", disse. Para Mulatinho, há uma atmosfera de raiva rondando o processo. "Por que essa 'fúria' toda? Eles se julgam paladinos da justiça. A questão não tem nada a ver com direitos humanos", frisou. O juiz disse que, até agora, não vê motivos para prender Denny. "A preventiva é algo excepcional, quando há ameaça à ordem pública. Ele não apresentou periculosidade, não tem antecedentes criminais. A denúncia da garota é altamente duvidosa", explicou.

O juiz negou que a ação, iniciada no meio deste ano, estivesse parada. Disse que interrogou Denny Oliveira e a mãe da menina que se disse atacada. Só não deu continuidade por conta da greve deflagrada pelos servidores do Judiciário. O processo está na fase da ouvida das testemunhas arroladas pelo MPPE. Em seguida, será a vez das pessoas indicadas pela defesa. Diligências finais e alegações complementam o percurso da ação, que será finalizada com a sentença. "Lamento que coloquem em evidência algo que devia ser sigiloso. A tensão emocional, que já é normal, vai ficar ainda maior", concluiu.

(escrito para ser publicado em 13 de set, quinta-feira)

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Assistência chama concursados até março

Tiago Barbosa

A Secretaria de Assistência Social (SAS) da Prefeitura do Recife anunciou, ontem, os nomes das 229 pessoas classificadas no concurso que promoveu em agosto para substituir os trabalhadores temporários. Os selecionados começam a ser chamados em outubro, depois do processo de homologação do concurso. Eles serão convocados por grupos e pela ordem de classificação, a partir da necessidade verificada pelo órgão nas suas ramificações.

A SAS atua em 12 centros de referência, quatro centros sociais urbanos, seis gerências regionais, além de um corpo administrativo da direção. Essa é a primeira vez que a secretaria realiza um concurso público para acolher servidores em seu quadro de pessoal. Até então, ela funcionou com trabalhadores cedidos por outras autarquias e funcionários temporários. O secretário Paulo Dantas avisou que, à medida que forem sendo trocados pelos novos servidores, os empregados provisórios não terão seus contratos renovados.

Antes de assumir, os concursados deverão ser submetidos a um treinamento que deve durar, no mínimo, trinta dias. "É a transição para conhecer a realidade da função em que irão atuar", justificou Dantas. Serão 55 assistentes sociais, 37 psicólogos, 20 pedagogos, 14 sociólogos e o restante posto administrativo. Nível superior vai receber R$ 1050 e médio, R$ 525. Todos os cargos, garantiu o secretário, serão ocupados. Mas a chamada por grupos deve retardar a conclusão da lista com os nomes até o mês de março do ano que vem. "Esperamos zerar o déficit, mas, se for o caso, vamos solicitar mais vagas", adiantou Paulo Dantas.

O concurso tem validade de dois anos e pode ser prorrogado por um tempo igual. Das mais de 14 mil pessoas inscritas, 5,4 mil foram aprovadas e formarão um banco de reserva para alimentar as vagas que surgirem. "O nível das provas mostra que temos um material humano muito bom, de qualidade elevada", observou Antônio Fernando Barros, presidente do IPAD, entidade responsável pela seleção.

Para o secretário Paulo Dantas, a contratação de servidores é um ganho para o órgão que ele dirige. "Assistência social é política de estado. Tem que ser algo permanente, não pode ser alterada", frisou. Ele explicou que os novos funcionários vão desenvolver atividades nas comunidades carentes com o propósito de "fortalecer a família" e combater o trabalho infanto-juvenil. O Instituto de Assistência Social e Cidadania (Iasc), ligado à secretaria, realizou concurso, recentemente, para contratar 238 servidores. Cabe ao órgão fazer atendimentos de média e alta complexidade em relação à população desfavorecida sócio-economicamente do Recife.

(escrito para ser publicado na terça, 11 de set)

Confusão em show de Rei da Pisadinha

Tiago Barbosa

A polícia vai investigar uma confusão verificada durante um show realizado no Clube Municipal Paulo Ramos Menezes, conhecido como "Paulão", sábado, em Condado, na Mata Norte do Estado, a 87 quilômetros do Recife. A platéia acusou os organizadores do evento de usar um falsário no lugar da atração conhecida como "Rei da Pisadinha", prometida no ingresso. Inconformados com o suposto engano, espectadores vaiaram o artista que subiu ao palco, quebraram os portões de acesso às dependências do local e danificaram o veículo dos produtores da festa. O peugeot verde foi posto de cabeça para baixo e queimado. Os idealizadores do show só conseguiram escapar da fúria da multidão porque a Polícia Militar os escoltou até um lugar seguro. O inquérito instaurado pela delegacia da cidade quer saber se eles agiram de má-fé na contratação do "Rei da Pisadinha".

O delegado Salatiel Patrício colheu, ontem, depoimentos entre o público e confirmou que a insurgência começou pouco depois de o artista subir ao palco. Ele informou que a perícia vai avaliar os estragos provocados no clube e os danos ao patrimônio dos organizadores. Disse que pretende analisar a validade do contrato firmado entre a produtora que agendou o evento e a atração para saber se há alguma irregularidade. "Vamos avaliar se o provável erro foi proposital e conferir quem se responsabiliza pelas depredações. O artista não era o esperado, e os organizadores vão dizer o porquê", comunicou.

Perto de mil pessoas compareceram à apresentação. Os ingressos foram vendidos por R$ 6 (individual) e R$ 10 (casal) e indicavam que a festa foi organizada pela RG Produções. A proprietária da produtora, professora Rute Carvalho Jucá Leite, disse à reportagem que não teve intenção de enganar o público. Ela realiza eventos na cidade há cinco anos e é, também, dona de um colégio para alunos do ensino fundamental. Rute alegou que "não conhecia o Rei da Pisadinha" e que costuma fechar contrato com uma pessoa de confiança, que lhe intermedia os shows. "Não sei se ele toca brega ou forró. Mas não quis enganar. Tanto que fui com minha família no local e com meu carro. Estava na bilheteria, dividindo os valores, quando percebi o tumulto", contou. Rute disse que não teve coragem de olhar o carro queimado e que chegou a ser ameaçada na rua, no domingo.

(escrito para ser publicado na terça, 11 de set)

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Tubarão: Pernambuco faz um ano e dois meses sem ataque

Tiago Barbosa

Pernambuco completa, hoje, um ano e dois meses sem registrar um ataque de tubarão. O período é o segundo maior desde que os incidentes começaram a ser contabilizados oficialmente - em junho de 1992 -, garante o Centro de Monitoramento de Incidentes com Tubarão (Cemit), que realizou ações preventivas durante o feriadão do final de semana passado. A maior trégua dada pelo animal, diz o órgão, foi o intervalo entre setembro de 2004 e abril de 2006. A última vítima computada no Estado foi um cadáver que surgiu boiando na praia do Paiva - na parte sul da Região Metropolitana do Recife - em julho do ano passado. Não se sabe ainda, contudo, em que faixa do litoral o corpo foi surpreendido pela espécie marítima.

A diminuição dos registros de ataques é fruto da conscientização crescente dos banhistas, sustenta o o presidente do Instituto Oceanário de Pernambuco, Alexandre Carvalho. Diz ele que as práticas educativas têm surtido efeito. Mas alerta que ainda não é hora de arrefecer. "A postura mudou, embora tenhamos um longo caminho pela frente. Temos que conseguir fazer de cada pessoa um multiplicador de orientações. É como a campanha para colocar o cinto de segurança. No começo, as pessoas não queriam. Hoje, é quase automático ao se entrar em um carro", observa. A maior incidência de ataques foi constatada num espaço de menos de 20 quilômetros situado entre o Pina e a igreja de Piedade - responde por 78% das 50 ocorrências.

O especialista adverte que, até o final de setembro, uma série de fatores ambientais sugere a manutenção da cautela antes de se tomar banho de mar. Explica que existe um canal adjacente à praia, com seis a oito metros de profundidade, que facilita o trânsito dos tubarões. A área sofre interferência da descarga do rio Jaboatão, cujo teor de água doce atrai espécies do tipo cabeça chata e tigre. São animais que não se incomodam, também, com os altos índices de poluição da água e, sendo assim, costumam passear próximo à praia. "A grande quantidade de chuvas torna a água mais doce e turva. Isso confunde os tubarões, que não sabem distinguir entre suas presas e os seres humanos", acrescenta Alexandre.

Para evitar a exposição aos animais, o especialista recomenda seguir alguns cuidados. Evitar entrar na água durante o amanhecer e ao cair da tarde, não se molhar quando tiver algum ferimento sangrando, não nadar sozinho nem quando estiver embriagado. "É preciso manter a guarda. Se, por um lado, o período chuvoso está acabando, vale alertar que o verão atrai uma maior quantidade de pessoas às praias, o que se torna outro fator de risco", diz Alexandre. O Cemit planeja ações de conscientização para implantar até o mês de maio do ano que vem.

(escrito para ser publicado na segunda, 10 de set)

BR 101 Sul concentra acidentes no feriadão

Tiago Barbosa

A BR-101 Sul concentrou, durante o feriadão de sete de setembro, a maior parte dos acidentes entre as 13 rodovias federais que cortam o Estado. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) contabilizou na via dez ocorrências, com a mesma quantia de pessoas feridas, entre a madrugada da quinta-feira e o último balanço feito pelo órgão no domingo, às 16h. Os números equivalem a 20% de todos os acidentes registrados em Pernambuco e pouco menos da metade dos casos em que foram feitas vítimas não-fatais. O chefe de Comunicação Social da PRF, inspetor Éder Rommel, disse que os incidentes foram centralizados nos trechos que dão acesso às praias. Para ele, uma conjunção de fatores - que vão das condições da pista até os abusos cometidos pelos motoristas - tornou o espaço mais perigoso.

"O excesso de buracos na via obriga o motorista a desviar e surpreende os menos atentos. A partir do Cabo de Santo Agostinho, a BR deixa de ser mão dupla. Há trechos em que a faixa da direita está prejudicada e os veículos mais lentos têm que seguir pela esquerda, causando demora e as retenções que incentivam as ultrapassagens", observou Éder. O dano à pista seria provocado, diz o inspetor, pelo abuso de caminhoneiros que transportam um peso muito acima do permitido e o execesso de carros em circulação: a PRF computou 70 mil automóveis trafegando pela rodovia, enquanto o limite fica na casa dos 30 mil.

Apesar da BR 101-Sul, o balanço geral da PRF revelou que o feriadão deste ano foi mais calmo numa comparação realizada com o mesmo período do ano passado. Diminuíram os registros de acidentes, caíram pela metade as ocorrências de feridos e diminuiu o número de mortos em face de colisões, atropelamentos ou capotagens.

A polícia contabilizou, em 2007, 50 acidentes, com 25 pessoas feridas e três mortas. Em Garanhuns, uma mulher que seguia com uma criança na garupa de um mototaxista foi atropelada por um caminhão, na sexta, e faleceu. Simone Patrícia Silvestre Monte Belo Félix, de 28 anos, conseguiu, no entanto, sacudir o jovem e salvá-lo da morte. Em Caruaru, Wilson José da Silva, de 19 anos, padeceu num acidente com uma moto. Uma pessoa também morreu em São Caetano, no quilômetro 178, ontem, mas, até o fechamento desta edição, ela não havia sido identificada.

A análise final sairá com a apreciação das informações levantadas até a 0h de hoje. No ano passado, foram 57 incidentes, que deixaram feridos 51 indivíduos e quatro mortos. Vale frisar que, em 2006, o Dia da Independência caiu numa quinta-feira, ou seja, o fluxo de veículos foi acrescido em um dia.

O inspetor Éder Rommel disse que não se pode desprezar a ligeira queda nos acidentes, uma vez que a frota de veículos em circulação tem crescido anualmente. Mas ele não atribui a redução à conscientização por parte dos motoristas e, sim, à presença maciça do policiamento ao longo das rodovias - 450 homens em 60 viaturas ajudaram a inibir os abusos. Segundo Rommel, este ano a PRF contou com a ajuda de dois helicópteros. Uma vítima foi socorrida de Tamandaré, litoral sul do Estado, para o Hospital da Restauração, no Derby, no Recife, depois de ser atropelada por um quadriciclo pilotado por um adolescente.

(escrito para ser publicado na segunda, 10 de set)

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Secretário assume e promete continuidade

por Tiago Barbosa

A solenidade no Palácio do Campo das Princesas serviu, também, para empossar o novo secretário de Defesa Social, o delegado da Polícia Federal (PF) Servilho Silva de Paiva, de 48 anos. Ele ocupava o cargo de secretário-executivo da pasta, mas foi promovido em função da saída do também delegado federal Romero Lucena de Meneses.

Depois de oito meses à frente da SDS, o agora ex-secretário foi convocado pelo novo diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa, para assumir a cadeira de diretor geral de Operações, segundo cargo na hierarquia da corporação policial. Foi a primeira vez que a gestão Eduardo Campos se viu forçada a alterar o escalão mais alto do governo. A Secretaria-executiva será dirigida por outro delegado federal: Cláudio Coelho de Lima.

Apesar da mudança, a condução da SDS não deve ser alterada. Ao ser nomeado, Servilho prometeu dar continuidade ao trabalho que vinha sendo feito por Romero Meneses. Ambos são amigos e fizeram questão de demonstrar afinidade. Tanto que Romero chegou a chamar Servilho de sua "consciência profissional". O novo secretário disse que o Pacto pela Vida vai balizar sua atuação. Cearense, Paiva mora no Recife há 21 anos. É formado em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Ingressou na Polícia Federal como agente no final da década de 1970, mas só se tornou delegado depois de prestar concurso em 1990. No currículo, acumula experiência em trabalho nas superintendências da Paraíba, de Sergipe e Pernambuco.

Ao se despedir, Romero Meneses criticou o que herdou na área da segurança pública e expôs as mudanças que empreendeu. Disse que os batalhões militares estavam "desmontados" e as delegacias se assemelhavam a "masmorras". Reclamou do que chamou de "tentativa de privatizar a polícia", ao dizer que ela servia a poucos, e da "deficiência na gestão, com o desrespeito à promoção na hierarquia militar". Queixou-se que 70% da frota estavam sucateadas.

"Construímos o Pacto pela Vida que, apesar das críticas, é um norte para nossas ações, vamos entregar o batalhão de Boa Viagem no próximo mês, criamos o Sistema Estadual de Inteligência, e atuamos para recuperar a auto-estima dos policiais", citou. Romero disse que sua saída não representa uma perda de poder da SDS. "Os que achavam que iam recuperar espaço estão enganados. Não há limite para o apoio à SDS. A interinidade é dos bandidos", avisou. O governador Eduardo Campos disse que estava satisfeito com os serviços prestados por Romero e anunciou que Servilho Paiva terá "carta branca" para enfrentar a criminalidade.

(escrito para ser publicado em 7 de setembro)

Governo federal lança Pronasci em Pernambuco

por Tiago Barbosa

O ministro da Justiça, Tarso Genro, veio ao Estado em companhia do novo diretor da Polícia Federal (PF), Luiz Fernando Corrêa, e detalhou os principais pontos do Pronasci. A medida reúne 94 projetos sociais e ações para combater a criminalidade. Destina-se, prioritariamente, ao atendimento das 11 regiões metropolitanas mais violentas do País, entre elas a do Recife.

A RMR será beneficiada com atenção às cidades de Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho, Paulista, Olinda e Recife. Em quatro anos, a União pretende investir, em nível nacional, R$ 6,707 bilhões - R$ 483 milhões somente neste ano. Tarso Genro disse que os recursos estão garantidos e representam um acréscimo de R$ 1,3 bilhão ao orçamento previamente estipulado. "É o mais elevado para o ano que vem", assegurou. O repasse será vinculado à apresentação dos projetos pelos estados, encarregados de coordenar os programas. Cerca de R$ 15 milhões vão, adiantou o gerente de Articulação Institucional da SDS, Manoel Caetano, para a pasta utilizar em quatro anos.

Tarso classificou o Pronasci como um "novo paradigma na segurança pública" e observou que ele aponta na mesma direção do Pacto pela Vida, plano do governo pernambucano para amenizar os altos índices de delitos. Disse que o diferencial em relação a programas criados anteriormente está no conjunto de projetos que engloba. "Não tem nenhuma criação genial. Em algum lugar do mundo, um desses projetos foi experimentado. A distinção é que não estavam dentro de uma concepção sistêmica", esclareceu. Tarso também frisou que o Pronasci se destaca por envolver as cidades para executar as ações. As administrações municipais poderão ser ajudadas com verbas para tocar iniciativas voltadas para a diminuição da violência. O recurso também vai bater à porta dos estados que apresentarem vontade de tocar propostas anticrime.

Os efeitos do plano, advertiu o ministro, não deverão ser sentidos a curto prazo. Serão notados dentro de, até, quatro anos. Mas Tarso adiantou que vai mobilizar esforços para que a criminalidade continue a ser combatida. Efetivo da Força Nacional de Segurança está preparado, de acordo com ele, para ajudar as polícias estaduais. "Quando tiver que disputar territórios com o crime organizado, vamos fazê-lo. Basta que os governos nos solicitem o apoio. Quinhentos homens da Força ficarão à disposição para dar conta deste trabalho", avisou. Pernambuco ocupa um dos primeiros lugares do ranking da violência no País, com a taxa de 70 homicídios por 100 mil habitantes. Há mais de uma década que a média anual de mortes violentas fica superior aos quatro mil casos.

(escrito para ser publicado em 7 de setembro)

União vai financiar presídio para jovem

Tiago Barbosa

O ministro da Justiça, Tarso Genro, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, assinaram, ontem, no Palácio do Campo das Princesas, no Recife, um convênio de cooperação para viabilizar a construção, no Estado, de uma unidade prisional dedicada exclusivamente a jovens entre 18 e 24 anos. A penitenciária demandará um aporte federal de R$ 12 milhões e terá capacidade para acomodar 400 detentos. A idéia de tratar de forma diferenciada os jovens é um dos focos do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci), lançado no mês passado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. O plano se propõe a combinar projetos sociais com ações de combate à criminalidade. Detalhes da iniciativa da União foram explicados pelo ministro a gestores locais durante visita que ele fez ao Recife.

Genro justificou o apreço especial pelos jovens em função de estatísticas que apontam serem eles a maior fatia do sistema prisional. Números apresentados pelo ministro atestam que os jovens respondem por 65% da população carcerária e, quando postos em liberdade, reincidem no crime em 70% das vezes. A Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) do Estado informou que os rapazes entre 18 e 30 anos correspondem a 36% dos detentos. Não se sabe, alega a Seres, quantos estão na margem de atendimento definida pelo Governo Federal. A decisão de separar os jovens das unidades prisionais comuns se traduz como uma tentativa da União de evitar o contato entre o público juvenil e bandidos mais experientes. Genro enxerga a interrupção da influência como uma forma de estancar o aliciamento para o crime organizado.

A unidade prisional juvenil terá um projeto arquitetônico especial e será erguida, a priori, em uma área da RMR ainda mantida sob sigilo pelo governo. O secretário-executivo de Ressocialização, coronel Humberto Viana, ponderou, no entanto, que o espaço pode ser qualquer outro de Pernambuco. Uma área que pertence ao governo em Araçoiaba está sendo analisada, assim como um terreno colocado à disposição pela cidade de Mirandiba. A escolha será feita depois de uma avaliação técnica do projeto que está em posse do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Viana se encontrou com representantes do órgão e revelou que é possível iniciar as obras ainda este ano. Uma vez construído, o presídio será lotado com jovens que já cumprem pena em unidades pernambucanas. O secretário adiantou que um centro semelhante deverá ser edificado para acolher mulheres nessa faixa etária. O esboço voltado ao público feminino se encontra sob análise do Depen.

A atenção ao jovem também deverá ser estendida para além dos muros do sistema prisional. O ministro afirmou que o governo pretende trabalhar com "aqueles que não querem o programa, que estão sendo seduzidos pelo crime". O secretário-executivo do Pronasci, Ronaldo Teixeira, especificou que entram na lista de prioridades "jovens presos, egressos do sistema prisional, em situação infracional e adolescentes em conflito com a lei. Na verdade, uma faixa de 15 a 29 anos". "Queremos, ainda, transformar o jovem oriundo do serviço militar em agente comunitário", afirmou Ronaldo.

(escrito para ser publicado em 7 de setembro)

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Mente também precisa de malhação

Tiago Barbosa

Senhas de banco, números de telefone, horários de compromissos, nomes de conhecidos. Relatórios, estudos, pesquisas, noticiários. O império dos dados exerce seu domínio sobre a sociedade e a situa, permanentemente, diante de um desafio: acompanhar o crescente volume de informações que, todos os dias, perpassam o cotidiano. Amplificada pela internet, a produção contínua de conteúdo exige do cérebro humano mais vigor na capacidade de memorizar os detalhes da vida e velocidade para se inteirar da gama de assuntos que rodeiam as relações humanas e profissionais. Como dar conta de toda sorte de temas sem sucumbir aos “esquecimentos” que insistem em surpreender? Há quem diga que treinamento da memória e técnicas de leitura oferecem ajuda aos que são atropelados pelo ritmo frenético da proliferação da informação.

A lógica se apóia numa simples comparação: a memória é como se fosse um músculo. Sem exercício, ela se atrofia. Perde paulatinamente a função de armazenar dados e gera, no mínimo, dificuldades para o seu dono. Isso sem se referir às situações embaraçosas quando a falha no arquivo mental faz esquecer, num encontro casual, o nome de um amigo que se viu quando pequeno ou não recordar, tão somente, o local onde foram guardadas as chaves de casa. Para especialistas, esse tipo de problema é mais comum do que se imagina. Mas ele tem salvação. A saída é investir numa ginástica restrita aos limites da cabeça. “A memória precisa de prática constante, uma malhação diária. Exercícios para que desempenhe bem seu papel”, aposta o professor e jornalista Mauro Alessi, que ministra, há mais de 15 anos, cursos destinados ao aperfeiçoamento do poder de memorizar e ler de forma dinâmica.

Antes de lançar os neurônios à academia, no entanto, é preciso identificar se há, de fato, tropeços da memória que justifiquem a procura pelo exercício. Em geral, diz o professor, verifica-se o distúrbio quando se começa a perder do pensamento informações que, até bem pouco tempo atrás, flutuavam na ponta da língua. Melhor, do raciocínio. “Os primeiros indícios são percebidos ao se esquecer o telefone dos irmãos, por exemplo, ou outro tipo de dado cuja utilização é corriqueira. O problema existe se complica a vida da pessoa”, explica. O fenômeno pode ser anotado em qualquer idade. Mas é necessário investigar se, no caso dos mais idosos, ele não é fruto do Mal de Alzheimer, uma doença degenerativa que leva o enfermo a apagar a memória gradativamente.

O professor sustenta que, se o comprometimento não for clínico, é possível tomar posse de um comportamento que aprimore o papel da mente. A preocupação com a precisão da memória pertence à história. Mauro Alessi aponta que, desde a Grécia Antiga, os pensadores sofistas engrenavam técnicas para garantir a memorização dos argumentos que desfilavam em praça pública. Hoje, a receita inicial passa por um hábito ainda caro ao brasileiro: a leitura. A prática é definida como o primeiro passo para quem quer diminuir as chances de esquecer. “Deve-se ler sempre. Todos os dias”, sugere o especialista.

A capacidade de memorizar, acredita Mauro, trabalha sobre quatro pilares: concentração, observação, imaginação e organização. Se um desses falhar, a função de armazenamento fica prejudicada. “Nossa memória se baseia em detalhes, na imaginação. É possível trabalhar isso”, defende. Para o professor, um curso destinado ao aprimoramento da memorização consegue desenvolver esse alicerce mental e reforçá-lo. “Nós conseguimos mudar a maneira de programar e consultar as informações no cérebro para que a pessoa faça uso da função a qualquer hora”, afirma. A mudança passa por um caminho que é individual a quem se aventura pelos exercícios com o cérebro. “As técnicas ajudam a seguir a rota que a pessoa escolhe”, observa.

Leitura também pode ser melhorada

Acostumado à rotina exaustiva dos palcos, o cantor e compositor romântico Adilson Ramos sentia dificuldade mesmo era diante da tela. Não conseguia acompanhar as legendas dos filmes a que assistia, que sumiam antes de ele acabar de ler. Transtornos como não saber onde foram guardadas as chaves da residência também começaram a incomodar o artista. Até que ele decidiu se submeter a um curso para treinar a memória e acelerar a leitura. O resultado: “Agora, estou bem melhor. Se vejo uma senha, decoro logo. Não tem aquele sofrimento na hora de fazer uma transferência ou pagamento. Leio com mais facilidade”. E brinca: “Só não dá para guardar os nomes dos fãs, que são muitos, mas é possível saber pelo rosto quem já me assistiu antes”.

A gênese de ler em ritmo lento está na infância, acredita o professor Mauro Alessi. Diz ele que a escola ensina a associar leitura e a fala. Mesmo quando os professores determinam aos alunos que leiam em silêncio, a pronúncia é feita mentalmente, defende. “O método tradicional tem esse empecilho. Mas é admissível reprogramar o cérebro para que ele omita a fala enquanto se lê. É só mudar o condicionamento e controlar a velocidade, que chega a aumentar em até vinte vezes”, explica Mauro. Exemplo citado por ele é o próprio cinema, em que “a pessoa consegue ler e observar as imagens sem a necessidade de reler para entendê-lo”.

O especialista frisa que, desde a década de 30, há uma técnica que associa as imagens às palavras para substituir a pronúncia no momento da leitura. “A imaginação é o combustível para isso. Nós pensamos através dela. Se eu disser: ‘não pense em um elefante, você vai deixar de imaginá-lo?’”, indaga. Para o professor, a preocupação com a velocidade da leitura é inerente ao desenvolvimento da sociedade e sua conseqüente produção de conteúdo. “As informações aumentam a cada dia, mas a metodologia de leitura continua sendo aquela de cem anos atrás. Não se pode estudar mais do mesmo jeito”, argumenta. Mauro advoga que qualquer um – da dona de casa ao estudante que deseja passar em um concurso público – tenha direito a melhorar o poder de processar os dados na leitura e memória. “Esquecer é desagradável”, diz.

Serviço
Outras informações: IAP – Aperfeiçoamento profissional - 3221 3001

(escrita para ser publicada na segunda, 3 de setembro)

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Corregedor promete rigor

Tiago Barbosa

O Governo do Estado voltou a apostar em um profissional de carreira da Polícia Federal para ficar à frente de um setor estratégico da Secretaria de Defesa Social (SDS). O delegado baiano Raymundo José Araújo Silvany, ex-chefe do Núcleo de Inteligência da Superintendência da PF na Paraíba, assumiu o cargo de corregedor da SDS ontem, em solenidade no auditório do Banco Central, na Rua da Aurora, no Recife. Ele tem 29 anos de experiência na polícia da União e foi indicado pessoalmente pelo secretário de Defesa Social, Romero Meneses, de quem é amigo e ex-companheiro de trabalho na PF. Chegou ao Recife há mais de 15 dias, para conhecer a estrutura do órgão de que se tornou comandante.

Recém-empossado, Raymundo disse que a prioridade da sua atuação será intensificar o controle junto aos inquéritos policiais. Revelou que pretende fazer com que os funcionários da corregedoria façam, por regiões do Estado, o acompanhamento das investigações dentro das próprias delegacias. “Vamos dar preferência às correições, criar estruturas para que a verificação seja feita nos distritos policiais.”, afirmou. Ele mandou um recado aos delegados que descumprem as determinações do Ministério Público: “Temos inquéritos com pedidos do MP não atendidos. Aqueles delegados que não acatam vão ter que se adequar. A correição vai observar isso”.

O corregedor frisou que avalia o quadro de servidores para dar conta da empreitada, mas adiantou que irá solicitar ao secretário Romero Meneses a ampliação de pessoal caso ela seja necessária. “Sei que temos déficit. Hoje são 154 pessoas. Precisamos ver, porém, se há uma má distribuição”, avisou. Ele também adiantou que irá promover capacitações com especialistas para obter sucesso nas fiscalizações. A idéia é incutir no trabalho das Polícias Civil e Militar a filosofia que, segundo ele, predomina na PF: “Na federal, a corregedoria está sempre presente, desde a academia. O policial sabe que a liberdade dele é vigiada”, explicou.

Raymundo também divulgou que almeja tornar mais rigorosa e rápida a punição dos policiais que se desviarem da função e tiverem envolvimento com a criminalidade. E se mostrou disposto a endurecer para dar o exemplo: “Se soubermos de algo, vamos afastar imediatamente. Temos que apurar os fatos em tempo real. Se não mostrarmos na hora certa, o policial vai achar que está impune.”, disse. Ele criticou o acúmulo de pendências na corregedoria, que estaria com mais de quatro mil procedimentos em aberto, e o número de processos de disciplina sobrestados – aguardando um desfecho jurídico para decidir o futuro do policial investigado. São 277, ao todo. “Vou rever o ato de sobrestamento, um por um. Muitos são de crimes graves. Vou dar andamento a eles”, assegurou. Raymundo disse, ainda, que vai criar um núcleo de inteligência na corregedoria.

O secretário Romero Meneses justificou a escolha por um policial fora dos quadros das polícias pernambucanas. “É bom que seja alguém neutro, para se sentir mais à vontade para tomar decisões”, disse. O secretário reiterou que a predominância das atenções será sobre o acompanhamento dos inquéritos e a severidade no trato com o policial que descumprir a função. Ele também demonstrou pressa. “Essa história de esperar trânsito em julgado – conclusão do processo – é para a área criminal. Se demonstrar conduta equivocada, será afastado”, falou. Meneses anunciou, ainda, que colocará mais gente na corregedoria se for necessário e que, até dezembro, a corregedoria funcionará em prédio único. Hoje, atua em dois.

escrita para ser publicada em 28 de agosto

THUNDERCATS: Polícia vai investigar suposto acobertamento

Tiago Barbosa
Mariana Soares


A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social vai abrir um processo para investigar a possibilidade de policiais civis - incluindo um delegado - terem agido com o propósito de evitar a prisão de Aloísio Sandro de Lima, conhecido como Sandro Rico, de 28 anos, apontado como um dos líderes do grupo de extermínio que se intitula Thundercats. Detido na última sexta-feira por agentes do Departamento de Homicídio e Proteção a Pessoa (DHPP), ele teria citado o nome de policiais envolvidos com o bando e o valor disponibilizado a eles para continuar foragido.

As declarações foram dadas na sede da Corregedoria, diante de dois promotores e de uma delegada designada pelo novo corregedor, Raymundo José Araújo Silvany, empossado no cargo ontem. Parte do que Sandro Rico contou estaria gravada, garantiu Raymundo, que preferiu manter sob sigilo as identidades dos suspeitos para não atrapalhar o rumo das investigações. O caso será acompanhado de perto por três promotores que já trabalham em parceria com a polícia no levantamento das ações dos Thundercats. A assessoria do Ministério Público informou que o trio não dará declarações à imprensa enquanto durar a apuração.

A defesa de Sandro Rico negou o teor do depoimento. "Isso foi inventado. Não sei de nada disso. Acompanhei todo o relato e sei que isso não aconteceu", refutou o advogado José David Gil Rodrigues Filho. "As acusações feitas contra meu cliente são infundadas, tanto que um dos quatro mandados de prisão preventiva expedidos contra ele foi revogado. Trata-se de um comerciante, um empresário decente", acrescentou José David.

Sandro Rico vinha sendo procurado pela Justiça há mais de cinco meses. Era tido pela polícia como um dos líderes do grupo de extermínio e o homem que disponibilizaria os recursos financeiros para viabilizar as investidas criminosas. Ele foi apresentado à imprensa, ontem, na sede do DHPP, no Espinheiro, em companhia de Everaldo de Souza, chamado de Mago, de 28 anos, também apontado pela polícia como integrante dos Thundercats. Sandro Rico negou qualquer tipo de envolvimento com a quadrilha, mas admitiu ter conhecimento de denúncias dirigidas ao Ministério Público e à Corregedoria sobre a conivência de delegados e policiais com as ações do bando. "Eu não faço parte dos Thundercats. Mas sei que a denúncia é contra um delegado e os policiais civis que trabalham com ele, que libertaram muita gente em troca de dinheiro", declarou.

A Polícia garante que os dois fazem parte da quadrilha especializada em cometer crimes nas mediações do bairro de Jardim São Paulo, no Recife. "O Everaldo estava no rol de pessoas que assassinaram uma mulher, no início deste ano, porque ela teria denunciado o bando à polícia. Sandro é realmente conhecido como o dono do dinheiro que, muitas vezes, era utilizado pelos exterminadores nos ataques", disse o gestor do DHPP, Joel Venâncio. A dupla foi presa, na última sexta-feira, na Estãncia, no Recife, depois de uma denúncia de um informante da polícia. Ambos ocupavam uma Fiorino Branca e levavam uma mulher em trabalho de parto para uma maternidade.

escrita para publicação no dia 28 de agosto

domingo, 26 de agosto de 2007

Polícia prende líder dos Thundercats

Tiago Barbosa

O líder do grupo de extermínio que se auto denomina Thundercats foi preso pela polícia na manhã da última sexta-feira. Aloísio Sandro Batista de Lima, conhecido entre os integrantes do bando como Sandro Rico, de 28 anos, foi detido na Estância, no Recife, por agentes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A informação foi passada pelo comissário do Departamento de Homicídio e Proteção à Pesoa (DHPP), Helivaldo Sodré, e confirmada pelo assessor da Secretaria de Defesa Social (SDS), Joaquim Netto.

A prisão ocorreu depois que os policiais receberam uma denúncia de um informante de que o procurado pela Justiça estaria circulando pelo bairro. Sandro Rico possui, segundo a polícia, três mandados de prisão expedidos contra ele. E é apontado como o responsável pelas operações financeiras que sustentam as ações da quadrilha especializada em crimes fatais nos arredores do bairro de Jardim São Paulo. O cabeça dos Thundercats deverá ser apresentado à imprensa pelo gestor do DHPP, Joel Venâncio, amanhã pela manhã, na sede do órgão, no Espinheiro, no Recife.

Sandro Rico prestou depoimento durante a tarde da sexta-feira. Joaquim Netto disse que ele deu informações sobre pessoas suspeitas de envolvimento com o grupo de extermínio e o modo de agir dos criminosos. A polícia evitou tornar pública a prisão do líder para fazer diligências com base nos dados que ele estava oferecendo. Mas nada foi encontrado até o fechamento desta edição.

As investigações tinham conhecimento de que Sandro circulava em uma Fiorino Branca pelo Recife. "Um informante nos disse que ele estava na Estância. Fomos com quatro homens e o prendemos. Sandro, desarmado, levava uma mulher em trabalho de parto para uma maternidade. Ele estava com um rapaz identificado como Mago, supeito de integrar o grupo", contou Helivaldo Sodré.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Maria da Penha: Formuladora da lei diz que violência não diminuiu

Tiago Barbosa

A violência praticada contra a mulher, no Brasil, não diminuiu com a implantação da Lei Maria da Penha. A observação pertence a ninguém menos que uma das pessoas responsáveis pela elaboração da legislação que, há pouco mais de um ano, tornou mais graves as penalidades impostas aos homens que agridem as companheiras com quem dividem o lar. Em passagem pelo Recife, ontem, a advogada Leila Linhares Barsted foi categórica ao dizer que o artifício legal estimulou as mulheres a romper os relacionamentos em que os parceiros são agressores.

Mas, por outro lado, a medida insuflou a intransigência de homens que, ao não aceitar o fim da relação determinado pelas ex-parceiras, apelam para o comportamento violento como forma de garantir a convivência do casal. "A gente tem visto que a perda do poder masculino sobre o relacionamento transforma agressores em pessoas ainda mais violentas, a ponto de vê-los chegar ao extremo", frisou ela, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE), no bairro de Santo Antônio, no Recife.

A preocupação da advogada se expressa em números. Em Pernambuco, por exemplo, a média de mulheres mortas por dia, em 2007, continua praticamente a mesma do ano passado - antes e depois da lei (0,8 contra 0,84). A mortandade é constatada à revelia do aumento nos flagrantes e na quantia de inquéritos remetidos à Justiça. Levantamento da Delegacia da Mulher comparou oito meses seguintes à adoção da lei com o mesmo período de tempo anterior à legislação e verificou que subiu em 3.083% a autuação instantânea dos agressores e em 526% o indiciamento nas investigações policiais.

Vale destacar, porém, que o registro dos homicídios não considera se as mulheres morreram por agressão de ex-companheiros ou por força do envolvimento com o crime. Para a advogada Leila Linhares, no entanto, os altos índices de violência indicam menos uma falha na lei do que o desconhecimento da população a respeito dela. "Nosso propósito é incentivar o debate para que a população conheça a lei", disse ela.

A especialista defende a disseminação da lei como forma de reverter uma cultura que, segundo ela, ainda se apóia bastante na ótica machista. "A sociedade é complacente com esse tipo de violência", pontuou. Diz ela que perduram resistências até mesmo em setores fundamentais para a aplicação da Maria da Penha. "Há locais resistentes à criação dos juizados voltados para o tema, imprescindíveis para validar a lei, penalizar os agressores e proteger as mulheres. Falta qualificação para policiais, promotores, juízes e delegados. As faculdades ainda não tratam da questão do gênero no curso, os universitários desconhecem os tratados nacionais e internacionais sobre a questão", lamenta.

Leila também criticou a concentração do atendimento à mulher nas capitais e a incapacidade de os serviços de plantão policial funcionarem à noite no Interior. Ela enxerga uma razão para tantos entraves. "Falta o entendimento da gravidade da violência doméstica e familiar. Até mesmo entre as mulheres. Se sabemos que há um ladrão nos rondando, tomamos providências. Mas elas parecem não conhecer os recursos de que dispõem quando ameaçadas pelos companheiros violentos", explica. A especialista veio ao Recife para participar de um curso sobre a aplicação da Lei Maria da Penha que tem como público-alvo magistrados, promotores, advogados, delegados, assistentes sociais, psicólogos e estudantes.

OAB vai solicitar que lei seja incluída no Exame

A seccional da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE) vai solicitar ao Conselho Federal da OAB nacional que se torne sistemática a abordagem à Lei Maria da Penha no exame que a entidade realiza anualmente para garimpar os advogados habilitados a exercer a profissão. A idéia do órgão estadual é intensificar o estudo da legislação por parte daqueles que acabaram de deixar a universidade e estão prestes a começar a carreira no Direito.

Vale frisar que o tema já figura nas questões elaboradas para a seleção promovida entre os bacharéis. Mas a OAB-PE quer aumentar a ênfase que vem sendo dada ao assunto e torná-lo pauta recorrente para aprovação dos futuros profissionais. A pretensão da Ordem em Pernambuco foi anunciada, ontem, pelo presidente da instituição, Jaime Asfora, durante reunião com a advogada Leila Linhares Barsted, no bairo de Santo Antônio.

Para Asfora, a inclusão vai ajudar no entendimento da legislação e aguçar a sensibilidade dos bacharéis em relação à violência de gênero, "um problema social grave que acomete o País". "É de caráter emblemático uma vez que a Maria da Penha tem provocado transformações sociais importantes. Queremos que o tema faça parte do conteúdo programático, seja algo específico que conste nos exames. Assim, vamos estimular a sua aplicabilidade", afirmou.

A solicitação será endereçada a Brasília, hoje, via ofício para o presidente da OAB nacional, César Brito. Ele deve designar um relator para apreciar o pedido e votar contra ou a favor do pleito. O parecer será submetido aos 81 conselheiros federais. O exame da OAB é, segundo a assessoria de imprensa do órgão estadual, padronizado em todas as unidades da federação. A prova é elaborada pela Cespe sob diretrizes expressas do Conselho Federal. A exceção fica por conta de sete estados: Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e São Paulo.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Meio ano depois, fardamento chega a escolas goianenses

Tiago Barbosa

Os alunos da rede pública de Goiana, cidade da Mata Norte do Estado, a 63 quilômetros do Recife, esperaram mais da metade do ano letivo de 2007 para ter a chance de freqüentar as aulas munidos do fardamento escolar. Eles começaram a ganhar, ontem pela manhã, um kit com camisas e shorts, além de mochila e material didático. O conjunto foi distribuído pessoalmente pelo prefeito do município, Henrique Fenelon, e uma comitiva que reuniu de secretários a assessores.

O grupo adentrou cada uma das salas das entidades de ensino municipais para entregar os produtos que deveriam estar de posse dos estudantes há mais de sete meses. O atraso foi justificado pela administração da cidade como conseqüência direta da demora no início das licitações, prejudicadas em função da mudança no comando de Goiana. Fenelon assumiu a prefeitura em meados de 2006, depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afastou do cargo o então prefeito Roberto Gadelha e o vice Marcílio Rego por abuso de poder econômico.

O atual chefe do Executivo goianense garantiu que, apesar do calendário escolar avançado, o material ainda terá utilidade para os alunos. "Os produtos poderão ser usados até o meio do ano que vem. Embora, em 2008, tenhamos que repetir o processo licitatório para conseguir mais materiais. As sobras deste ano vão ficar com os alunos que se matricularem no próximo semestre", explicou Fenelon. Para o prefeito, os kits escolares são valiosos porque "muitos pais de estudantes não têm condições de bancar as despesas com o fardamento".

Além disso, disse ele, a padronização da roupa "acaba com a diferenciação entre os alunos que podem e os que não podem". Todas as camisas, segundo o prefeito, foram feitas com material de primeira linha. Elas carregam o símbolo e o slogan da prefeitura - "Do jeito do povo" - estampados no tecido. Fenelon calculou que tenha sido gasto quase R$ 1 milhão na aquisição dos kits escolares - entre recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), do Governo Federal, e dos cofres municipais.

A prefeitura decidiu começar a distribuição do material pelas localidades mais distantes do centro de Goiana. A primeira contemplada foi a Escola João Gonçalves de Azevedo, que fica no distrito de Barra de Catuama, à beira do encontro do Rio Massaranduba com o Oceano, de frente para o Forte do Pontinho, em Itamaracá. A direção da escola montou um café da manhã para a chegada do prefeito e a comitiva dele.

As instituições de Catuama e Ponta de Pedras também foram visitadas pelos membros da prefeitura e ganharam os produtos escolares. O calendário da Secretaria de Educação de Goiana prevê que os kits sejam todos entregues nas 15 comunidades goianenses até a sexta-feira. "Esperamos deixar os alunos preparados para desfilar no 'Fest Banfas', quando antecipamos o nosso 7 de setembro em Goiana", observou a secretária Rose Mary Viégas.

Moradores reclamam ao prefeito

Mães de alunos da Escola Gonçalves de Azevedo e moradores de Barra de Catuama aproveitaram a visita do prefeito Henrique Fenelon para protestar. Reclamaram da quaildade do ensino na instituição e da infra-estrutura das vias da comunidade que, segundo eles, dificultam o acesso até as salas de aula.

A mariesqueira Miriam Barbosa se queixou pelo fato de que a filha dela, com sete anos e na 1á série do ensino fundamental, ainda não consegue ler. Disse ela que grande parte dos estudantes sofrem com o mesmo problema. "Ela não sabe, sequer, escrever o próprio nome", afirmou. Miriam também se mostrou indignada com a merenda que é servida às crianças - segundo ela, a melhor parte dos alimentos fica com professores e diretores - e com a suposta tentativa da direção da escola de não contar às mães sobre a visita do prefeito. "Foi para esconder as críticas", frisou. A cabelereira e artesã Suelen Carvalho se insurgiu quanto à ausência de uma passarela para facilitar o trânsito dos estudantes entre a Rua da Penha e a Rua da Lama. O trecho foi encoberto pelo avanço do mar. "As crianças têm que passar por dentro da casa dos vizinhos", afirmou.

O secretário de Articulação Política e Governo de Goiana, Ilo Jorge, rebateu as reclamações da população. Ele assegurou que, até o dia 15 de setembro, a prefeitura inicia uma obra para permitir a passagem dos alunos na rua atingida pelas águas. "Não adiantava nada construir na época de chuvas. Seria jogar dinheiro no lixo", explicou. Ilo comentou que o problema da educação deve ser observado dentro do quadro que há em Pernambuco. Ele lembrou que o Estado ocupa a rabeira dos rankings de educação em relação ao Brasil. "Mas estamos fazendo progressos com programas como o 'Alfabetização com sucesso' - para corrigir 80% do déficit da rede - e o 'Se Liga'", pontuou.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Polícia pode demitir PM suspeito de assassinato

Tiago Barbosa

O comandante-geral da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE), coronel Iturbson Agostinho, deu início ao processo de licenciamento para demitir sumariamente da corporação o soldado André Luiz Rodrigues de Souza, lotado no destacamento do 2º Batalhão da PM de Tejucupapo, na cidade de Goiana, Litoral Norte do Estado. O militar é suspeito de assassinar com um tiro o estudante Verivaldo Adolfo da Silva Filho, de 16 anos, na noite da última terça-feira, na praia de Pontas de Pedra. O afastamento do efetivo ocorrerá se for provado que ele teve culpa no episódio. A decisão foi tomada antes mesmo de o inquérito instaurado para apurar o caso apontá-lo como responsável proposital pelo disparo da bala que matou o adolescente.

A informação foi divulgada pelo assessor de comunicação da PM, major Martins Júnior. Justifica ele que a medida se fez necessária por causa da conduta do policial, que teria deixado o local em que o garoto foi atingido sem prestar socorro. "Essa não é a atitude de um policial", salienta Martins. O procedimento adotado em desfavor de policiais com menos de dez anos de serviço deve ser concluído em até 30 dias.

O PM André está foragido. Se for encontrado, será preso administrativamente por até 72 horas. As últimas informações levantadas pela polícia, afirma Martins Júnior, dizem que ele compareceu ao destacamento na noite em que o menino faleceu e descarregou a arma que portava durante o trabalho. O processo é de praxe. O policial, continua Martins, tinha ido até o centro da cidade para comprar o jantar quando cruzou o caminho do adolescente Verivaldo.

A partir daí, as suposições contam a história. A morte do garoto está encoberta por duas versões. Uma delas é contada pela família. Deixado na praia por seu padrasto, o forneiro Paulo Sérgio Pereira Brasil, o menino montou numa moto e começou a circular pela praia, apesar de não possuir carteira de habilitação. "Eu fui trabalhar e pedi que ele me aguardasse, pois voltaria logo para jogarmos futebol. Ainda nos falamos por telefone, cerca de vinte minutos antes de eu retornar. Soubemos que ele bateu a moto na do policial antes de ser morto", contou.

Mãe do adolescente, a pensionista Alexandra Rabelo de Souza reproduziu o depoimento de testemunhas e afirmou que o policial teria atirado contra o adolescente depois de desconfiar de sua atitude. "Uma senhora nos disse que meu filho passou duas vezes pela mesma rua. O policial deve ter achado estranho, abordou-o e atirou nele após Verivaldo cair da moto", afirmou ela. Houve quem dissesse, segundo a mãe, que o tiro teria sido acidental. Mas a mulher não acredita. "Como um tiro acidental entra pela clavícula e chega ao coração?", questionou. O PM, prossegue, teria abandonado o seu filho. Alexandra avalia a possibilidade de prestar queixa na Corregedoria de Defesa Social. "Estou com medo de represálias", pontuou.

O major Martins confirmou a abordagem do militar, mas não soube explicar se ele agiu irregularmente. Buscas foram feitas na cidade do PM, em Goiana. Até o fechamento desta edição, o soldado não tinha sido encontrado

Briga de família mata três índios

Tiago Barbosa

Três mortos, dois feridos e uma tribo desfalcada. Foi esse o saldo de um desentendimento entre índios de uma mesma família da etnia Capinaua - que povoa uma reserva em Buíque, no Agreste do Estado, a 285 quilômetros do Recife. A discussão ocorreu na madrugada de ontem, numa aldeia chamada Riachinho, situada a 40 quilômetros do centro do espaço indígena. Os familiares faziam uso de bebidas alcoólicas quando iniciaram o confronto. O agricultor Edílson Antônio da Silva foi morto pelo primo Amerício Gomes da Silva com uma facada no abdômen. A investida ocorreu na presença do irmão do assassino, José Gomes da Silva, e da companheira da vítima, Joseane Bezerra Cavalcanti.

Poucos momentos depois, o irmão de Edílson, Severino Antônio da Silva, e um outro índio, identificado como Paulo Siqueira Bezerra, foram avisados do homicídio. Eles partiram para cima de Amerício e José Gomes, assassinando-os a facadas e tiros de espingarda soca-soca. Perícia feita nos corpos constatou que José Gomes teve quatro ferimentos de faca no tórax, enquanto o irmão Amerício padeceu depois de ser atingido à bala no tórax e braço.

O duelo fez, ainda, mais duas vítimas. A mãe dos irmãos mortos, a presidente da Associação da Aldeia Riachinho, Maria Delmira da Silva, e o irmão dela, José Idalino da Silva, se feriram com os disparos da espingarda. Ambos foram socorridos para a Casa de Saúde de Buíque. Em seguida, transferidos para o Hospital Regional de Arcoverde e, por fim, para o Regional do Agreste. Receberam alta médica no meio da tarde de ontem. Os corpos de José Gomes e Edílson foram liberados pelo Instituto de Medicina Legal (IML) no mesmo dia. O cadáver de Amerício deve sair ainda hoje. O enterro deve ser feito no cemitério do Catimbau, distrito de Buíque.

Depoimento prestado por Joseane diz que Edílson e Amerício tinham uma rixa antiga. Mas, segundo ela, a briga teria sido insuflada pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Esse não é o primeiro episódio violento que envolveu os índios da família. O chefe do posto da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Buíque, Expedito Marsena Alves, afirma que, há cerca de 15 anos, Serverino teria assassinado o próprio cunhado. Sustenta, ainda, que o rapaz foi condenado pelo crime e cumpriu pena na Penitenciária de Canhotinho, de onde estaria foragido. Depois de cometerem o crime na madrugada de ontem, Severino e Paulo fugiram.

A suspeita de as mortes terem ocorrido em função de um desarranjo familiar colocou a Polícia Civil no caso e, momentaneamente, afastou a Polícia Federal (PF) da dianteira das investigações - embora a PF ofereça apoio nas apurações. O delegado responsável pelo caso é Marivam Bezerra. A reportagem não conseguiu falar com ele. O triplo homicídio foi registrado menos de dez dias depois do índio Capinaua Manoel Pedro Filho, de 21 anos, matar o também índio Gilmar Barbosa de Moura, 31, filho do cacique da tribo. O crime teria sido praticado por desavença familiar.

FUNAI sente dificuldade para fiscalizar consumo de bebida

A venda e o consumo de bebidas alcoólicas são proibidos em áreas de reservas indígenas. Mas, de acordo com a Funai, a legislação nem de longe é seguida à risca no espaço habitado pelos Capinaua, em Buíque. O chefe do posto do órgão de proteção à etnia na cidade, Expedito Marsena Alves, adverte que é excessivo o consumo desse tipo de produto entre os moradores da tribo e alerta que a ingestão do álcool tem ajudado a provocar desentendimentos freqüentes no meio dos índios. "Uma busca feita pela Polícia Federal, hoje (ontem), depois do crime, encontrou mais de vinte garrafas de cachaça vazias em uma das casas. É muita bebida", admira-se.

Os indígenas burlariam o limite legal, diz ele, ao comprar o líquido em feiras dos municípios circunvizinhos e transportá-lo para dentro da tribo em recipientes escondidos. A fiscalização, acrescenta Marsena, é dificultada pela extensão da reserva e a quantidade de índios que nela residem. A Funai informou que são mais de seis mil pessoas alojadas em 23 aldeias. As moradias ocupam um terreno de 16 mil hectares que compreende áreas nos municípios de Tupanatinga, Buíque e Ibimirim. "Além disso, a área é de difícil acesso. Temos problemas em trabalhar. Procuramos fazer reuniões e conscientizá-los sobre os malefícios da bebida. Até religiosos são trazidos para ajudar. Mas uma minoria ignora isso", explicou o chefe do posto.

A estrutura da Funai também não colabora. Apenas seis funcionários estão escalados para atender à demanda de toda a tribo. Chega a faltar combustível para a única viatura de propriedade do órgão. "É impossível fiscalizar. Os índios se sentem à vontade para beber e farrar, seja em aniversários, batizados ou festinhas. Já registramos muitas confusões", lamenta Marsena. Diz ele, ainda, que a presença da Polícia Federal já foi solicitada diversas vezes. "Temos enviado ofícios há quatro anos, mas não conseguimos retorno", afirmou. A assessoria da PF não foi localizada pela Folha.

XUCURU enterrado

O índio da etnia Xucuru José Lindomar Santana da Silva, de 37 anos, foi enterrado, na manhã de ontem, no cemitério de Pesqueira, no Agreste do Estado. Ele foi assassinado na madrugada do último domingo, na PE 219, quando retornava de uma festa em uma moto, na companhia do irmão dele, José Orlando Santana da Silva. Os dois teriam sido emboscados por outra dupla, que os feriu com o disparo de vários tiros. Atingido nas costas, Lindomar morreu na hora. O familiar foi levado para o Hospital Regional do Agreste e, em seguida, transferido para o hospital municipal de Pesqueira.

Segundo o policial federal Válter Assis, as investigações já começaram. "Por enquanto, estamos levantando testemunhas, descobrindo possíveis inimigos. São procedimentos iniciais. Há indícios de que a morte tenha sido fruto da disputa por terra. Não seria a primeira vez naquela localidade", disse ele. A suspeita em torno da possibilidade de um confronto entre os xucurus por conta de terrenos surgiu a partir da constatação de que os dois irmãos atingidos são filhos do ex-chefe da tribo, o cacique da Aldeia Pedra D'Água Francisco de Assis Santana.

Ele foi assassinado em 2001, num episódio relacionado ao registro de terras e indenização de posseiros. A polícia, no entanto, não descarta outras hipóteses, como a de vingança, uma vez que Lindomar foi preso sob a acusação de abusar sexualmente de uma adolescente de 14 anos, no Recife.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Produtor de banda é acusado de planejar homicídio

Tiago Barbosa

A polícia apresentou, ontem pela manhã, na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no Espinheiro, no Recife, o produtor musical Nelson Oliveira da Silva, de 52 anos, acusado de planejar o assassinato da ex-mulher, a dona de casa Andréa Patrícia dos Santos, de 33 anos. As investigações mostraram que o crime foi cometido em fevereiro deste ano pelo filho dele, Nelson Oliveira Júnior, em frente aos três filhos da vítima, de oito, dez e 15 anos.

O pai teria ordenado o assassinato depois de discutir com a companheira por conta da venda da casa que pertencia a ela, na rua Aquiles, Ibura, Recife. Ele queria o dinheiro para saldar dívidas, mas ela se recusava a se desfazer do imóvel. Nelson Silva - que agenciava bandas como Só Brega e Chama do Brega - tinha um mandado de prisão expedido em desfavor dele pelo Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.

O DHPP conseguiu a quebra do sigilo telefônico do produtor e passou a monitorar seus passos. O advogado dele, contudo, teria descoberto e orientado o cliente a se livrar dos chips. A partir disso, a polícia adotou outra tática: forjar o interesse pela compra da propriedade em que Nelson mantinha uma relação extra-conjugal com Andréa. Casado com outra mulher, ele havia colocado uma placa na propriedade para vendê-la. A prisão foi feita na última sexta-feira, quando um agente do DHPP se passou por um comprador.

O delegado Gilmar Rodrigues disse que Nelson decidiu encomendar a morte da mulher depois de uma discussão travada entre os dois por causa do imóvel. "Ele a jurou de mortena briga. Quando encontrou o filho, contou o que havia ocorrido. Nelson Jr. foi à casa dela e a chamou para o lado de fora. Ela apareceu e ele disparou uma vez. Assim que a mulher caiu, mais cinco tiros foram efetuados. Os filhos de Andréa, que assistiam à cena, imploraram, mas ele não cedeu", afirmou. Nelson Jr. está foragido. O pai foi enquadrado no artigo 29 do Código Penal Brasileiro, por participar do crime.

O inquérito também revelou que Nelson Silva cometeu crime contra a administração federal. Ele teria usado o cartão do bolsa-família de Andréa nos dois meses seguintes à morte dela. O banco descobriu a fraude e comunicou ao DHPP. As informações serão repassadas à Polícia Federal (PF), que vai investigá-las. O cartão foi encontrado na carteira de Nelson, junto com identidade de Andréa e uma foto dela nua. As ligações intermediadas pela polícia mostraram, ainda, que Nelson dava "calote" nas bandas e empresários com quem trabalhava.

Nelson Silva negou as acusações policiais. "Eu nunca faria mal a uma pessoa que amo. A gente discutia, mas não sei quem a matou. Meu filho disse que não foi ele", assegurou. A tia que criou Andréa, Neide Maria Barros Santos, de 50 anos, disse que se sentia parcialmente aliviada. "O outro criminoso ainda está solto", alertou.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Trecho de Mata Atlântica é suprimido

Obra de duplicação da BR 101 Norte arranca parte da vegetação em Goiana

Tiago Barbosa

A Mata Atlântica já foi a porta de entrada do litoral brasileiro. Quando os europeus aportaram no continente americano, por volta de 1500, a vegetação cobria uma área que se arrastava de onde hoje fica o Rio Grande do Norte até o atual estado do Rio Grande do Sul. Eram cerca de 1,3 milhões de quilômetros quadrados daquela que foi considerada a segunda maior floresta tropical úmida do País, em detrimento, somente, da Amazônica. Anos de ocupação e desenvolvimento das cidades praticamente legaram a formação vegetal ao limbo. Estima-se que existam, hoje, apenas 52 mil quilômetros quadrados, algo em torno de 4% da cobertura inicial.

A devastação fez com que as áreas de Mata Atlântica se tornassem espaços especialmente preservados. E protegidos. Mas nem sempre o progresso consegue respeitar essa limitação. Há casos que insistem em colocar a necessidade do desenvolvimento em rota de colisão com a existência da vegetação. É o que se observa em dois trechos que limitam a cidade de Goiana, no Litoral Norte do Estado, a 63 quilômetros da Capital.

O plano de duplicação da BR 101 esbarrou, por duas vezes, em áreas de Mata Atlântica que ladeiam a pista. A construção de uma via paralela exigia a derrubada de parte da cobertura vegetal. O Governo Federal solicitou, e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) consentiu a retirada parcial.

O planejamento das obras estabeleceu que é necessário derrubar 39% da mata. Isso equivale a 0,1 quilômetros quadrados de 0,25 que existem rodeados de cana-de-açúcar nas terras das usinas Maravilha e Santa Tereza. Os números podem parecer baixos. Mas ganham força diante de avaliações feitas pelos órgãos de defesa ambiental. Calcula-se que, da formação inicial da Mata Atlântica em Pernambuco, sobrevivam apenas 3%, índice menor do que o verificado nacionalmente.

O Departamento Nacional de Infra-Estrutura e Transporte (Dnit), que coordena a duplicação, garante que o prejuízo será minimizado pela contrapartida exigida pelo Ibama para permitir o corte na floresta. Pelo termo de Autorização de Supressão de Vegetação n° 155, o Dnit ficou obrigado a elaborar um plano de replantio das espécies mais relevantes.

Nota enviada pelo supervisor de Estradas, Projetos e Meio Ambiente do Dnit, Aston dos Santos, garante que o estudo já foi feito e que as mudas de epífitas, bromélias, propágulos – tipos mais significativos - estão em posse do Instituto de Pesquisas Agropecuárias de Goiana. A área para fazer o replantio, no entanto, ainda está sendo definida em parceria com o Exército, que executa as obras.

O departamento também se comprometeu a doar a madeira colhida para o Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira (Imip), no Recife, e a Prefeitura de Goiana. O corte começou em maio e deve terminar em agosto. Até lá, uma faixa de até 35 metros à direita da via original deve ser retirada. Técnicos ouvidos pela reportagem da Folha no local, no entanto, disseram que esse campo pode se estender. Em áreas mais elevadas, a intervenção pode chegar a 80 metros . A previsão é de que duplicação em Pernambuco alcance 125 quilômetros .

Entidades lamentam a supressão

Depois do primeiro corte, nada adianta mais. A não ser, acompanhar e fiscalizar. É com esse grau de conformismo que duas entidades que atuam na defesa do meio ambiente - em especial a Mata Atlântica - assistem à derrubada de trechos da vegetação nativa em Goiana. “Após tirar a primeira parte, fica difícil reclamar”, observa o coordenador da Associação Pernambucana de Defesa da Natureza (Aspan), Alexandre Araújo.

Para ele, o trecho da mata que ladeia a BR 101 Norte embora não fosse muito “exuberante”, conserva uma importância para a manutenção da qualidade do ar. “É uma vegetação danificada pela poluição. Mas ajuda a filtrar os poluentes do escape, como o enxofre”, diz. Ele frisa que o replantio – mesmo que seja garantido pelo órgão – tem se traduzido em compensação financeira em outras intervenções.

A crítica, no entanto, não arrefece. O engenheiro agrônomo da Associação para Proteção da mata Atlântica do Nordeste (Amane), Raul Soares, pondera que não seria necessário derrubar a mata. “Desvios poderiam ser feitos. É um desafio para a parte da engenharia”, diz ele. E ironiza: “Dificilmente alguém vê um avanço ser feito nas áreas de canaviais”. Apesar da colocação, o ambientalista faz questão de deixar claro que “não se trata de ser contra ou a favor do corte da mata” e explica: “É uma questão de saber como a gente quer o nosso desenvolvimento. Por cima da vegetação? Isso é progresso? Vale pontuar que compensar nem sempre é algo satisfatório. Às vezes, é mais educativo evitar cortar do que fazê-lo e, depois, plantar mil vezes a mais”.

Alguns estudiosos atribuem à derrubada da Mata Atlântica uma das causas da seca no Nordeste. Isso porque a ausência da floresta impediria a formação das chuvas, e os ventos que sopram do litoral transportariam o sal para a vegetação, sem barreiras naturais. Acredita-se, também, que a devastação prejudique o sistema de reciclagem dos nutrientes do solo. A superfície fica, ainda, desprotegida contra o efeito das precipitações.

Faculdade cria sistema para facilitar transferência

Tiago Barbosa

Transferências de cursos entre instituições de ensino superior costumam causar dores de cabeça. Nem sempre as cadeiras freqüentadas em uma faculdade se encaixam com perfeição na grade curricular da outra entidade. A rejeição das disciplinas provoca, de imediato, dois desgastes para o aluno: a repetição de aulas assistidas e o adiamento da formação acadêmica. Isso quando não exige, ainda, o pagamento pelas mensalidades das atividades que o estudante é obrigado a participar se mudar para uma universidade privada.

A dificuldade já se tornou uma preocupação para o Governo Federal e o Ministério da Educação (Mec). Um decreto presidencial publicado em abril deste ano deu vazão a um projeto da União que pretende, em meio a outros pontos, ampliar e facilitar a mobilidade entre os universitários das redes federais. O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) se propõe a instituir diretrizes que permitam o aproveitamento dos créditos concluídos.

O dispositivo se aplica somente às entidades públicas do Governo Federal. Mas uma iniciativa de uma instituição particular de Pernambuco mostra que é possível estender um modelo que tem a essência semelhante às universidades pagas. A Faculdade de Ciências Humanas Esuda vem colocando em prática, desde 2005, um sistema que considera, ao máximo, as disciplinas cursadas nas universidades anteriormente freqüentadas pelos novos alunos.

O programa foi criado pelo professor Wilson Barreto e é chamado de Currículo Inteligente. Ele explica que o propósito da inovação é elencar diretrizes básicas pelas quais se decide se o recém-matriculado pode ou não aproveitar, na nova escola, o que aprendeu nos locais por onde passou. Em geral, diz ele, a tendência é pelo proveito das disciplinas que o estudante traz na bagagem intelectual.

A Faculdade defende que o Currículo Inteligente (CI) é pioneiro no País. De acordo com o seu inventor, o CI parte do pressuposto de que o mais importante é a noção que o aluno desenvolve a partir do assunto. Isso eliminaria, segundo Wilson Barreto, a necessidade de ele assistir a conteúdos que, sozinho, poderia aprender. Um exemplo ilustra melhor a teoria: “Se na faculdade que ele estudava, freqüentou aulas de História do Brasil, não há porque ser obrigado comparecer às salas para estudar História Geral. Quem faz a primeira cadeira é plenamente capaz de entender a segunda. O que interessa é que o estudante tenha a base do que significa estudar história”, explica. Ele diz que a postura do Esuda é adequar o que o aluno fez à grade curricular dos cursos que a universidade oferece. “O interessante é preservar o que ele tem”.

Beneficiada pelo novo método, a estudante de Arquitetura Renata Caribe finalmente enxerga no horizonte a chance de se formar. Desde 1999, ela vai às aulas. Mas o período letivo precisou ser interrompido por várias vezes: mudança com a família para a Bahia, nascimento de dois filhos e o retorno ao Recife. A cada matrícula, o embate se repetia.

E a conclusão se adiava. “Em Salvador, mesmo faltando poucos créditos, eu teria que passar mais de dois anos na faculdade. Ainda tive que fazer uma prova para validar as disciplinas. Perdi muitas cadeiras. Quando regressei ao Recife, só não tive dificuldade porque precisei conversar com a diretora. Até que desfrutei do sistema do Esuda. Foi ótimo”, contou. Renata se forma no final deste ano.


Método evita pagar por cadeiras

O novo método de enquadrar o aluno transferido, aposta o professor Wilson, ajuda a eliminar a prática adotada por várias universidades de atrasar a formação do curso por conta de uma recusa em aceitar currículos que elas não elaboraram. “E também deixam de faturar o que cobrariam a mais ao impor as cadeiras da grade”, acrescenta ele. O inventor do sistema, no entanto, diz que não é fácil estendê-lo a todos os cursos porque ainda há resistência entre coordenadores.

Para o professor, ainda há uma outra vantagem na adoção do Currículo Inteligente. “Quando o estudante deixa as aulas, ele leva no currículo não somente os créditos equivalente às cadeiras que cursou na faculdade pela qual se formou. Carrega, ainda, o conhecimento obtido em outras instituições. Exemplo: se ele fez engenharia em uma universidade, mas opta por transferir para direito, depois de chegar ao bacharelado terá registrado no currículo o que aprendeu sobre as disciplinas da primeira faculdade”, observou.

Violência afasta turistas de PE?

Tiago Barbosa

A violência é uma praga que apodrece o que toca. Desestrutura famílias, destrói vidas, amputa sonhos e corrói as relações humanas. Aguçado pela criminalidade, o desarranjo debilita o convívio social e instala a permanente sensação de insegurança em quem tem o dissabor de prová-lo. Os pernambucanos sofrem na pele os altos índices de crimes que colocam a unidade da federação como a mais violenta do País. Pesquisa obtida com exclusividade pela Folha, no entanto, sugere que o receio vai além, se alastra no rastro da informação e é capaz, até, de frear o ímpeto dos que sonham em conhecer o Estado. O estudo diz que turistas estrangeiros e nacionais chegam e deixam Pernambuco com uma impressão negativa sobre a violência local, o que traria prejuízos ao comércio e travaria uma demanda turística ainda maior.


O levantamento foi feito pela agência de publicidade BM4Comunicação a partir de dificuldades que clientes que atuam no setor turístico vinham enfrentando. Eles supunham que o fluxo de pessoas ao Estado estava em decadência, e, por isso, os empreendimentos que administram amargavam prejuízos financeiros com a baixa procura. Pesquisadores contratados pela instituição aplicaram questionários em 200 turistas (70% nacionais e 30% estrangeiros) no Aeroporto Gilberto Freyre – Jaboatão dos Guararapes e em pontos turísticos distintos do Estado. O resultado foi surpreendente, diz o coordenador do estudo, o sociólogo e publicitário Osvaldo Matos de Melo Junior: “Foi além do esperado. Há uma sensação de insegurança muito forte”.

A pesquisa mostra que 80% dos entrevistados se informaram antes de visitar Pernambuco. Desses, 81% teriam obtido dados negativos sobre a violência no Estado. Mais de 30% saberiam dos assassinatos, 20% conheceriam a realidade de assaltos e furtos e 8% descobriram informações sobre seqüestros. O conhecimento prévio não foi suficiente para redimi-los da vontade de fazer a viagem. Mas, segundo Osvaldo Matos, é possível que muitos outros tenham desistido ao se deparar com notícias desfavoráveis sobre a criminalidade pernambucana. “Temos um estado tão lindo, tão maravilhoso em suas belezas, ecossistemas e variedades de turismo, que eles vêm, por mais que tenham consciência da gravidade. Imagine se não tivessem essas informações?”, questiona.

Nenhum dos entrevistados disse ter sofrido violência enquanto esteve em Pernambuco e mais de dois terços indicariam o local para conhecidos. Mas, quando perguntados sobre que fatores os levariam a não recomendar o Estado, a maioria das respostas convergiu para a questão da segurança pública: 67% afirmaram que a proteção faz falta – dificuldade que supera o tão propalado medo de ataques de tubarão (com 1%). O problema da insegurança foi o mesmo diante da indagação a respeito do que eles menos gostaram, da recordação mais triste que vão levar na bagagem de volta e do pior serviço oferecido. Pouco mais da metade não se sente segura no Estado, assegura a pesquisa.

“Muitos vêm com uma noção negativa e a confirmam aqui. Lêem nos jornais, escutam nas ruas, testemunham. Se não se sentem seguros, não saem, não usufruem dos serviços, não gastam. Assim sendo, não movimentam a economia, geram desemprego”, avalia Osvaldo. Vale frisar, contudo, que a pesquisa fez tanto perguntas abertas quanto indutivas – em que a resposta é delimitada pelo entrevistador. O grau de confiança foi definido em 95%.

Visitante costumeiro do Recife, o paulista e engenheiro-consultor Cláudio Mendes discorda das conclusões da pesquisa. Diz que, de fato, Pernambuco carrega a imagem de estado mais violento do País, mas alega que isso não é suficiente para inibir o turista. “Não acredito que alguém deixe isso influir na decisão de visitar o Estado. É preciso saber filtrar as informações e conhecer in loco a realidade. Violência, afinal, tem em todo o Brasil”, afirma ele. O representante comercial piauiense Marcos Sá acrescenta que, diante das notícias sobre violência, o “turista pode até ficar mais precavido, mas nunca deixar de vir”. “Pretendo voltar e vou recomendar Pernambuco”, garante.


Números contestam pesquisa

Não são apenas algumas opiniões de turistas que confrontam as indicações da pesquisa feita pela BM4Comunicação. Dados do Ministério do Turismo e da Empresa Pernambucana de Turismo(Empetur) refutam a tese de que os elevados índices de violência possam frear a procura pelo Estado. Para o presidente da Empetur, Allan Aguiar, “o fato de comentar a segurança pública não significa dizer que os turistas vão evitar repetir a viagem ou fazer o marketing boca a boca nos locais de onde vieram”. Aguiar diz que o quesito proteção é citado em qualquer levantamento e que, segundo um estudo reproduzido em uma revista de circulação nacional, “Pernambuco é menor em ocorrências com turistas do que estados menos violentos nas estatísticas e que lideram a demanda turística no Nordeste – Bahia e Ceará”.

A sondagem feita pela Empetur entre janeiro e maio deste ano aplicou 1,8 mil questionários no Aeroporto, Terminal Integrado de Passageiros, nas BRs 101 Sul, 101 Norte e 232 em turistas brasileiros e estrangeiros para verificar, em meio a outros pontos, a relação entre violência e turismo. O levantamento apontou que, em Pernambuco, houve menos assaltos a visitantes, quantidade inferior de estupros, número menor de ocorrências em geral na comparação com Bahia e Ceará. Nenhuma morte de turista foi registrada no Estado no período observado (confira quadro). O estudo se baseou em dados fornecidos pela Secretaria Necional de Segurança Pública, Secretarias Estaduais, Polícias Civil e Militar.

Os números insuflam o argumento da Empetur. “É bom frisar que 97% dos nossos turistas têm a intenção de voltar. Segurança pública é um dos serviços públicos avaliados pelos turistas, assim como sinalização e limpeza. O Rio de Janeiro aparece direto com episódios de violência e é o mais visitado”, pondera Allan Aguiar. Outro dado é utilizado pela Empetur para afastar a idéia apresentada pela pesquisa da BM4Comunicação. Dados da CVC, uma das maiores operadoras de turismo do País, revelam que a queda na venda de pacotes, entre 2006 e 2007, foi menor em Pernambuco do que nos vizinhos Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte – líderes na visitação turística no Nordeste.

Pesquisadora sugere cautela na avaliação dos dados

Coordenadora da Oficina de Segurança, Justiça e Cidadania da Fundação Joaquim Nabuco, a pesquisadora Ronidalva Melo sugere cautela no momento de avaliar os dados da pesquisa que tenta relacionar violência e procura pelos destinos turísticos. Frisa que o resultado do levantamento pode ser influenciado pelo instante em que foi realizado e pelo objetivo da viagem feita até Pernambuco. “Uma sondagem feita durante o flagrante de violência durante o desfile do bloco Balança Rolha (em que brigas foram filmadas pelas emissoras de televisão) este ano poderia mostrar que há uma sensação de insegurança. No entanto, observamos que, dias depois, o carnaval transcorreu com muitos turistas. É preciso ponderar, também, que muitos vêm ao Estado para conhecer a realidade dos menos favorecidos”, explica.

Ronidalva pondera, no entanto, que o impacto das informações negativas sobre violência pode ser suficiente para interferir na escolha do turista. Embora, diga ela, que não se trata de uma “epidemia que restrinja absurdamente o fluxo turístico”. “O turista pode buscar contra-informação, ou seja, dados que confrontem com a realidade que ele está se colocando a par. O boca a boca também conta. Uma coisa é se informar. Outra é vir e viver na prática”, avalia.

Embate na educação pode parar na OIT

Tiago Barbosa

O embate entre educadores e o governo de Pernambuco tem tudo para ganhar dimensão internacional. A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) se mobilizou para solicitar à Organização Internacional do Trabalho (OIT) que interceda junto à administração do Estado e evite a punição dos servidores que se recusarem a voltar ao batente.

Medidas anunciadas na última quarta-feira pelo secretário de Educação, Danilo Cabral, determinaram a reapresentação dos professores no máximo até o próximo dia 7, sob pena de afastá-los do cargo e contratar substitutos. O ponto dos faltosos já havia sido cortado. A secretaria considerou a rejeição da proposta governamental pelos educadores - em assembléia no dia 31 de julho - como o sinal de que as negociações deveriam ser encerradas. A paralisação nas escolas públicas chega, hoje, a 54 dias. Estima-se que 300 mil alunos estejam sem aulas. A taxa média de adesão à greve está em 45%.

A presidente da CNTE, Juçara Dutra Vieira, justificou o apelo a um órgão internacional como uma tentativa de reabrir a negociação. Para ela, a atitude da administração do Estado foi unilateral quando decidiu pôr fim ao diálogo e impor punições aos professores que insistirem na interrupção das atividades. "Não pode ser assim. Numa negociação, as duas partes têm que ceder. Mas os governos se valem da máxima de que não há direito à greve. Isso está errado", observou ela, em entrevista à Folha, por telefone. Juçara revelou ter levado a situação vivenciada pelo ensino público em Pernambuco ao conhecimento da Organização Internacional da Educação (OIE), que representa cerca de 30 milhões de trabalhadores em todo o mundo. É através dessa entidade que ela quer fazer o problema aportar na OIT. "Vamos solicitar que seja garantido nosso direito sindical sem punição", adiantou.

A coordenadora contou que a mediação estrangeira foi requisitada no transcorrer da paralisação dos professores na Bahia. "Na mesma semana, o governo baiano recebeu uma notificação da OIT pedindo que fossem revogadas as penalidades aos docentes. O órgão não tem o poder normativo, mas a intervenção contribuiu para as negociações, que fizeram a greve acabar há cerca de 15 dias", destacou. A presidente ressalvou, no entanto, que providencia a comprovação das punições impostas aos docentes pernambucanos para formalizar o pedido à OIT.

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe) faz uma assembléia com os professores hoje, às 9h, na quadra do complexo IEP, no Treze de Maio, no Recife, pra decidir quais os próximos rumos do movimento grevista. "Os encaminhamentos são tomados de forma coletiva. Não aceitamos de maneira individualizada, para beneficiar os que retornarem, como propôs o governo", pontuou o presidente do Sintepe, Heleno Araújo.

Vinculada: Cedes a favor do governo

O tema educação figurou como um dos principais na reunião extraordinária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Cedes) no Palácio do Campo das Princesas, Santo Antônio, Recife, na manhã de ontem. A apresentação do Plano Plurianual (2008/2011) foi colocada de lado para que o secretário Danilo Cabral expusesse a 41 conselheiros os detalhes da negociação entre governo e professores. Disse ele que houve apoio à maneira como o Estado conduziu o diálogo com os docentes e às medidas para o retorno das aulas anunciadas na quarta-feira.

"Houve compreensão por parte dos conselheiros de que o Estado fez o que pôde para negociar. Infelizmente, o calendário de reposição das aulas já vai invadir o ano de 2008", afirmou Danilo.
A coordenadora da câmara temática que trata da educação no Cedes, professora Silke Weber, não quis comentar o confronto entre professores e governo. Disse que seus integrantes expressaram posicionamento em ata de reunião no dia 17 de julho. Mas o documento no site do Conselho não faz menção específica à atual crise no ensino público estadual. A câmara volta a se reunir na segunda-feira. O governo estipulou um prazo de 40 dias para que o Cedes avalie os sistemas de gestão no ensino público e na saúde.

Presidente do grupo EQM e conselheiro do Cedes, Eduardo Queiroz de Monteiro avaliou o encontro como positivo. "O governo mostrou que está mobilizado. Os números foram tratados com transparência e equilíbrio. Um diagnóstico preciso sobre a situação foi passado para os conselheiros", observou. O Cedes foi criado, no final de maio, com a função de debater as políticas públicas e os entraves ao desenvolvimento do Estado. Hoje, conta com 51 conselheiros. Mas, quando completo, terá 65.

escrita em 2 de agosto

Informática favorece dados no HR

Tiago Barbosa

A Secretaria de Defesa Social (SDS) de Pernambuco lançou mão de uma estratégia para melhorar a captação e processamento de dados nas ocorrências relacionadas às vítimas da violência que derem entrada no Hospital da Restauração (HR), no Derby, no Recife. O órgão dotou o posto policial que fica na unidade de saúde de um sistema informatizado capaz de alimentar e disponibilizar em tempo real para investigações as informações sobre os casos que aportarem no hospital.

A SDS quer que o Boletim de Ocorrência Eletrônico, que está em funcionamento há mais de vinte dias no HR, seja levado para as principais emergências do Estado. O próximo centro a receber a ferramenta será o Hospital Getúlio Vargas, no Cordeiro.

A escolha pelo HR, segundo a SDS, se se justificou por conta da alta demanda mensal recebida pela unidade. Dos cerca de 18 mil atendimentos registrados no local, 15% fazem referência a uma situação que pode gerar uma ocorrência policial. Para a chefe da Unidade de Tecnologia da Informação da Polícia Civil, Mary Anne Belfort, o serviço vai agilizar o repasse dos dados para que sejam iniciadas as investigações e aumentar a eficácia na apreensão de criminosos.

A diminuição do tempo para que as informações se tornem acessíveis às delegacias é, segundo a delegada, fator determinante para que isso ocorra. Explica ela: "Antes, registrávamos de quatro a seis dias para fazer o material chegar até a DP e instalar um inquérito. O boletim saía do HR, seguia para a Delegacia do Espinheiro (encarregada de fazer a triagem), passava pela Diretoria de Polícia e, finalmente, era encaminhado para a delegacia em cuja circunscrição o crime ocorreu. Agora, ele vai estar no sistema pouco tempo depois de ser preenchido pelos agentes do posto policial". Mary Anne garante que um relato feito no domingo à noite estará disponível já na segunda pela manhã.

A eficácia do trabalho policial seria favorecida não somente pela agilidade do registro dos dados, mas pela exploração do momento em que eles são colhidos. "Na emergência, as pessoas contam as vesões inteiras. Há casos em que elas se furtam a dizer o que sabem depois que as investigações são tocadas. Aquele é o melhor instante para apurar", observa. A idéia da SDS também é utilizar as informações apanhadas para formar um rico banco de dados que possibilite elaborar ações policiais ou aproximar a atuação em conjunto entre as delegacias.

"Se uma pessoa cometeu estupro em dois locais diferentes, pelas características do estuprador poderemos saber se o crime praticado tanto no Cordeiro quanto em Pau Amarelo, por exemplo", diz. A delegada afirmou que os agentes passaram por um treinamento para operar o novo sistema.

PREVISÍVEL: Idosa é mora pelo ex-companheiro

Tiago Barbosa

Era quase certo que uma tragédia rondava a casa de muro verde da rua Jacira, na comunidade de Sapucaia de Dentro, em Olinda. O comportamento do mecânico Lusivaldo Mendes, de 51 anos, em relação à sua ex-companheira, a autônoma Isabel Alves de Santana, de 60 anos, mostrava que ele não estava disposto a aceitar a separação. Mesmo depois de ter sido colocado para fora da residência, há 15 dias, o homem insistia em procurá-la. Queria retornar para o lar.

Diante das recusas, as ameaças eram constante. A polícia interveio por vezes. Mas nada adiantou. Na madrugada do domingo, a história saiu do campo verbal para o físico. O mecânico invadiu a propriedade onde a autônoma estava e a assassinou com golpes de faca. Em seguida, tentou se matar, mas foi socorrido e, até o fechamento desta edição, estava internado no setor de trauma do Hospital da Restauração, no Derby, no Recife. O estado de saúde dele é grave.

Os indícios sugerem que o crime poderia ter sido evitado. Familiares e amigos do casal contaram que Lusivaldo costumava arrumar encrenca quando bebia. "Ele a esculhambava, brigavam muito", disse a vizinha Gersina Nunes. Os dois estavam juntos há 12 anos. Conheceram-se em uma festa. Desde então, dividam a mesma casa com a mãe de Isabel, uma senhora de 91 anos. O vício pela bebida, disseram conhecidos dela, chegou a um nível insuportável. A situação complicou de vez há duas semanas.

O mecânico travou uma discussão com a filha da idosa, Celma, e a teria agredido com uma faca. "Ele pegou uma faca e ela se esquivou. Mas ainda conseguiu cortar a barriga dela. Celma prestou queixa na Delegacia de Peixinhos", falou a estudante Catarina Daiane, vizinha de Lusivaldo e Isabel. Ela acrescenta que policiais chegaram a comparecer à casa na rua Jacira, mas não tiveram sucesso em encontrá-lo. Não foi a primeira vez que um problema da família envolveu a polícia. "Ela já tinha prestado queixa contra ele outras vezes", disse a estudante. Hoje, Lusivaldo iria à Delegacia da Mulher prestar depoimento. Mas, segundo os moradores de Sapucaia, ele estava disposto a evitar o comparecimento à DP. A todo custo.

"Antes de ir para a delegacia, eu faço qualquer coisa. Se eu não matá-la, toco fogo na casa. Ela tem que ser minha", disse a vizinha Catarina. Na noite do crime, ele foi até a casa de Isabel. Com medo, ela vivia trancada. Mas não deixava de se preocupar com o ex-companheiro. Ela costumava lavar suas roupas e chegou a alugar um quartinho para ele morar.

No sábado, a idosa solicitou que o mecânico comprasse pão. Ao retornar, deu-lhe café. Pediu que fosse embora. Chovia muito, e Lusivaldo, aparentemente, resolveu aceitar a sugestão. No início da madrugada, no entanto, ele retornou, segundo os vizinhos. Cortou o fio do telefone. Destelhou o teto sobre a cozinha. Foi até o quarto. Usou duas facas para matar a mulher, que teve ferimentos na mão, pescoço e cabeça, segundo a perita do Instituto de Criminalística (IC), Verônica Melo. Depois, utilizou uma das facas para cortar o próprio pescoço. Acredita-se que ele tenha tentado fugir - pois existem marcas de sangue no balcão da cozinha. Sem forças, contudo, caiu e foi salvo pela ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), chamada por moradores.

"Eu dizia para ela ter cuidado"

Inconsolável, a irmã de Isabel, Severina dos Ramos, de 72 anos, parecia saber que o crime era questão de tempo. "Eu dizia para ela ter cuidado, não confiar nele. A gente se comunicava muito e ela demonstrava medo. Ele costumava brigar com os três filhos dela. Mas Isabel fazia questão de não envolvê-los", recordou. Na última vez em que as duas se viram, na noite do sábado, Isabel conversava com Lusivaldo ao portão. Ele estava do lado de fora. Ela, trancada em casa. Quando ele foi embora, Severina sentiu-se aliviada para dormir. Pela manhã, como de costume, chamou a irmã para irem até igreja. "Mas ela não respondeu. Vi, pelo vasculhante, que faltavam telhas na casa dela. Quando estava no templo, fui avisada do crime", contou. "E, agora, o que é que eu faço? Tudo nós fazíamos juntas", lamentou.

A mãe de Isabel, que, segundoa a família, sofre de problemas mentais, teria escutado o momento em que Lusivaldo abordou a filha. "Ela nos disse que Isabel chorou muito durante a noite e, em seguida, silenciou", falou Severina. O sobrinho de Isabel, Luciano Santana, de 37 anos, disse à reportagem que o enterro da idosa está marcado para as 11h de hoje, no cemitério de Santo Amaro. Segundo a Polícia Militar, as circunstâncias da morte serão apuradas pela Delegacia de Peixinhos.

A Folha entrou em contato com a delegada do Departamento de Polícia da Mulher, Verônica Azevedo, para saber se houve negligência policial no atendimento e proteção à autônoma, uma vez que a idosa era ameaçada constantemente pelo ex-companheiro. Ela disse que vai se inteirar do caso hoje, com a Delegacia da Mulher, em Santo Amaro. "Tenho que puxar os boletins de ocorrência para saber o que houve", adiantou. Em geral, afirmou a delegada, medidas protetivas são adotadas de acordo com a Lei Maria da Penha para garantir a segurança da mulher que é jurada de morte pelo ex-companheiro.

terça-feira, 31 de julho de 2007

DENÚNCIA CONTRA PMS: Mãe presta queixa na corregedoria hoje

Tiago Barbosa

A comerciária Rosângela Nunes Sarmento deve comparecer, hoje, à sede da Corregedoria de Defesa Social, no Espinheiro, no Recife, para formalizar a queixa de que dois policiais militares teriam sido responsáveis pelo assassinato do filho dela, o deficiente mental Marconi Floriano dos Santos, de 25 anos. O rapaz foi morto a tiros no bairro do Salgadinho, em Olinda, na madrugada do domingo. Ele levou três tiros: um na nuca e dois nas costas.

A ida ao órgão que avalia a conduta dos militares seria feita ontem, mas foi cancelada porque a comerciária estava muito abalada. Ela também achou melhor consultar um advogado para descobrir a como proceder no momento de registrar a ocorrência. Rosângela, apesar de não ter presenciado o assassinato, se mantém confiante na idéia de que os policiais - um sargento e um soldado - tenham cometido o crime. "Foi isso que as pessoas da comunidade viram e me contaram", reafirmou.

O corregedor José Cândido de Sousa Ferraz disse que aguarda a ida da comerciária à corregedoria para colher o depoimento dela. Ele adiantou, no entanto, que já tem em mãos as matérias jornalísticas sobre a morte do garoto e que está acompanhando as informações geradas a respeito do caso. "Eu pedi, também, à delegacia o boletim de ocorrência em que os PMs registraram o que foi encontrado com a vítima. Há notícia de que ele portava uma arma", afirmou José Cândido. O corregedor garantiu que não vai descartar nenhum dado sobre o crime e que deve instalar um procedimento para apurar a conduta dos policiais que se envolveram no episódio. A corregedoria vai trabalhar em parceria com a Polícia Civil.

O delegado designado para investigar o assassinato de Marcone é Derivaldo Falcão, do Varadouro. O policial comunicou que começou a fazer um levantamento dos parentes da vítima que devem prestar depoimento. "Se houver necessidade, chamaremos, também, as testemunhas", acrescentou. Os relatos podem ser iniciados ainda hoje. Derivaldo deixou claro, contudo, que qualquer conclusão sobre as circunstâncias do homicídio ainda é "muito frágil".

ENTERRO

Sob comoção e indignação, o corpo do jovem Marcone Santos foi velado e enterrado no cemitério de Santo Amaro, no bairro de mesm nome, no Recife, na manhã de ontem. Familiares e amigos se reuniram para se despedir do garoto assassinado em Olinda. No instante em que o caixão foi colocado na tumba, a mãe de Marcone externou sua emoção. "É, Marcone, chegou o teu adeus, o último momento. Fiz tudo de bom para ti. Você não vai ser esquecido por mim nunca. Um menino tão bom, que nunca fez mal à sociedade. Agora, só adianta pedir a Deus pela alma tua", desabafou. As córneas do garoto foram doadas para transplante.

Mas a Secretaria Estadual de Saúde revelou que, apenas hoje, saberá se elas são viáveis para o procedimento. Durante o sepultamento, um conhecido de Marcone disse que PMs apareceram na cena do crime anteontem. Ele acredita que para tentar intimidar a comunidade.