Tiago Barbosa
Senhas de banco, números de telefone, horários de compromissos, nomes de conhecidos. Relatórios, estudos, pesquisas, noticiários. O império dos dados exerce seu domínio sobre a sociedade e a situa, permanentemente, diante de um desafio: acompanhar o crescente volume de informações que, todos os dias, perpassam o cotidiano. Amplificada pela internet, a produção contínua de conteúdo exige do cérebro humano mais vigor na capacidade de memorizar os detalhes da vida e velocidade para se inteirar da gama de assuntos que rodeiam as relações humanas e profissionais. Como dar conta de toda sorte de temas sem sucumbir aos “esquecimentos” que insistem em surpreender? Há quem diga que treinamento da memória e técnicas de leitura oferecem ajuda aos que são atropelados pelo ritmo frenético da proliferação da informação.
A lógica se apóia numa simples comparação: a memória é como se fosse um músculo. Sem exercício, ela se atrofia. Perde paulatinamente a função de armazenar dados e gera, no mínimo, dificuldades para o seu dono. Isso sem se referir às situações embaraçosas quando a falha no arquivo mental faz esquecer, num encontro casual, o nome de um amigo que se viu quando pequeno ou não recordar, tão somente, o local onde foram guardadas as chaves de casa. Para especialistas, esse tipo de problema é mais comum do que se imagina. Mas ele tem salvação. A saída é investir numa ginástica restrita aos limites da cabeça. “A memória precisa de prática constante, uma malhação diária. Exercícios para que desempenhe bem seu papel”, aposta o professor e jornalista Mauro Alessi, que ministra, há mais de 15 anos, cursos destinados ao aperfeiçoamento do poder de memorizar e ler de forma dinâmica.
Antes de lançar os neurônios à academia, no entanto, é preciso identificar se há, de fato, tropeços da memória que justifiquem a procura pelo exercício. Em geral, diz o professor, verifica-se o distúrbio quando se começa a perder do pensamento informações que, até bem pouco tempo atrás, flutuavam na ponta da língua. Melhor, do raciocínio. “Os primeiros indícios são percebidos ao se esquecer o telefone dos irmãos, por exemplo, ou outro tipo de dado cuja utilização é corriqueira. O problema existe se complica a vida da pessoa”, explica. O fenômeno pode ser anotado em qualquer idade. Mas é necessário investigar se, no caso dos mais idosos, ele não é fruto do Mal de Alzheimer, uma doença degenerativa que leva o enfermo a apagar a memória gradativamente.
O professor sustenta que, se o comprometimento não for clínico, é possível tomar posse de um comportamento que aprimore o papel da mente. A preocupação com a precisão da memória pertence à história. Mauro Alessi aponta que, desde a Grécia Antiga, os pensadores sofistas engrenavam técnicas para garantir a memorização dos argumentos que desfilavam em praça pública. Hoje, a receita inicial passa por um hábito ainda caro ao brasileiro: a leitura. A prática é definida como o primeiro passo para quem quer diminuir as chances de esquecer. “Deve-se ler sempre. Todos os dias”, sugere o especialista.
A capacidade de memorizar, acredita Mauro, trabalha sobre quatro pilares: concentração, observação, imaginação e organização. Se um desses falhar, a função de armazenamento fica prejudicada. “Nossa memória se baseia em detalhes, na imaginação. É possível trabalhar isso”, defende. Para o professor, um curso destinado ao aprimoramento da memorização consegue desenvolver esse alicerce mental e reforçá-lo. “Nós conseguimos mudar a maneira de programar e consultar as informações no cérebro para que a pessoa faça uso da função a qualquer hora”, afirma. A mudança passa por um caminho que é individual a quem se aventura pelos exercícios com o cérebro. “As técnicas ajudam a seguir a rota que a pessoa escolhe”, observa.
Leitura também pode ser melhorada
Acostumado à rotina exaustiva dos palcos, o cantor e compositor romântico Adilson Ramos sentia dificuldade mesmo era diante da tela. Não conseguia acompanhar as legendas dos filmes a que assistia, que sumiam antes de ele acabar de ler. Transtornos como não saber onde foram guardadas as chaves da residência também começaram a incomodar o artista. Até que ele decidiu se submeter a um curso para treinar a memória e acelerar a leitura. O resultado: “Agora, estou bem melhor. Se vejo uma senha, decoro logo. Não tem aquele sofrimento na hora de fazer uma transferência ou pagamento. Leio com mais facilidade”. E brinca: “Só não dá para guardar os nomes dos fãs, que são muitos, mas é possível saber pelo rosto quem já me assistiu antes”.
A gênese de ler em ritmo lento está na infância, acredita o professor Mauro Alessi. Diz ele que a escola ensina a associar leitura e a fala. Mesmo quando os professores determinam aos alunos que leiam em silêncio, a pronúncia é feita mentalmente, defende. “O método tradicional tem esse empecilho. Mas é admissível reprogramar o cérebro para que ele omita a fala enquanto se lê. É só mudar o condicionamento e controlar a velocidade, que chega a aumentar em até vinte vezes”, explica Mauro. Exemplo citado por ele é o próprio cinema, em que “a pessoa consegue ler e observar as imagens sem a necessidade de reler para entendê-lo”.
O especialista frisa que, desde a década de 30, há uma técnica que associa as imagens às palavras para substituir a pronúncia no momento da leitura. “A imaginação é o combustível para isso. Nós pensamos através dela. Se eu disser: ‘não pense em um elefante, você vai deixar de imaginá-lo?’”, indaga. Para o professor, a preocupação com a velocidade da leitura é inerente ao desenvolvimento da sociedade e sua conseqüente produção de conteúdo. “As informações aumentam a cada dia, mas a metodologia de leitura continua sendo aquela de cem anos atrás. Não se pode estudar mais do mesmo jeito”, argumenta. Mauro advoga que qualquer um – da dona de casa ao estudante que deseja passar em um concurso público – tenha direito a melhorar o poder de processar os dados na leitura e memória. “Esquecer é desagradável”, diz.
Serviço
Outras informações: IAP – Aperfeiçoamento profissional - 3221 3001
(escrita para ser publicada na segunda, 3 de setembro)
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário