domingo, 30 de setembro de 2007

Suspeita de envenenamento em Brasília Teimosa

Tiago Barbosa

A Polícia Civil deve instaurar inquérito para apurar um suposto caso de envenenamento de uma criança e um idoso que moram no bairro de Brasília Teimosa, na Zona Sul do Recife. Os dois deram entrada na emergência do Hospital da Restauração, no Derby, na tarde da última terça-feira com sintomas característicos de quem ingeriu substância tóxica. Informações registradas no boletim de ocorrência da unidade de saúde sustentam que o ex-comerciante Antônio Francisco de Barros, de 62 anos, e Samuel Nascimento de Alcântara, de apenas três, teriam passado mal após comer biscoitos compartilhados com o avô do garoto, identificado como Arnaldo Manuel de Alcântara - que também convalesceu.

O menino e o senhor receberam assitência no Centro de Atendimento Toxicológico. No final da tarde de ontem, Antônio teve alta. Até o fechamento desta edição, o garoto permanecia internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital em estado gravíssimo.

A Delegacia de Boa Viagem receberá, agora pela manhã, ofício da Gerência de Polícia da Capital relatando o caso. A ocorrência foi repassada, ontem, à Delegacia do Espinheiro, que concentra os dados obtidos no HR. O comunicado seguirá acompanhado de amostras do biscoito recolhidas por familiares das vítimas e entregues no posto policial do hospital. O delegado Evaristo Ferreira Neto disse que ainda não tinha conhecimento do episódio. Mas adiantou que, assim que receber a informação, vai dar início à investigação. O alimento será periciado pelo Instituto de Criminalística ou o Laboratório Central do Estado.

O ex-comerciante Antônio ainda sentia, ontem à noite, os efeitos do desgaste provocado pela comida que ingeriu. Ele falou com dificuldades sobre o momento em que dividiu os biscoitos com conhecidos. Segundo o ex-comerciante, ele e colegas estavam no porto de Brasília Teimosa na manhã da terça-feira. Um rapaz identificado como "Baé" entrou na cabine do barco de que era dono e disse ter encontrado os biscoitos. Havia dois pacotes: um de chocolate e outro simples, sem recheio. "Ele me entregou e eu reparti com Arnaldo e o neto. Duas horas depois, em casa, comecei a passar mal. Fiquei tonto, minhas pernas fraquejaram, vomitei", contou. Ele disse que não ofereceu o alimento a Baé, porque "ele o tinha achado", e que não havia razões para desconfiar. Antônio foi levado para o HR por familiares.

O pai do garoto, o designer Henrique Douglas Torres, não soube explicar o que ocorreu. Ele contou, somente, o socorro que prestou ao garoto. "Estava em casa, quando escutei os gritos da avó dele. Levei-o de carro para o hospital. No percurso, ele teve três paradas cardíacas e chegou desacordado ao HR", recordou. O pai afirmou ter sido informado por familiares que o garoto ingeriu cerca de cinco biscoitos, enquanto os outros teriam comido menos. Ele enfatizou que o menino não ingeriu qualquer substância tóxica ou remédio antes dos biscoitos.

Menino entre a vida e a morte

Das três pessoas que comeram o biscoito, a criança é a que sofreu os piores efeitos. Samuel está internado inconsciente, sob efeitos de sedativos e respira com ajuda de aparelhos. O diretor do HR, o médico Américo Ernesto Júnior, informou que o menino precisou tomar medicação e ser reanimado nas dependências da unidade de saúde. "O quadro é que, de uma forma geral, o estado dele é comprometido. Precisamos observar as próximas horas", declarou. Américo observou que somente um exame apurado da comida é capaz de determinar se houve envenenamento. Mas ele adiantou que os indícios sugerem uma reação semelhante à ingestão de chumbinho, venendo utilizado para matar ratos.

"O panorama sugere essa hipótese. O chumbinho é um produto que leva a síndrome colinérgica, ou seja, um conjunto de fatores específicos que indicam o envenenamento: pupilas pequenas, salivação, freqüência cardíaca fraca, diarréia e dor abdominal", explicou o médico. Américo registrou que o ex-comerciante Antônio reagiu bem ao tratamento e evoluiu. "Ele ficou consciente e orientado", avaliou. Arnaldo Alcântara, segundo parentes, provou um pedaço de um biscoito. Ele teria dito que o alimento lhe fez mal, mas tomou um pouco de leite e melhorou.

(escrita para ser publicada no dia 20 de setembro)

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