segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Faculdade cria sistema para facilitar transferência

Tiago Barbosa

Transferências de cursos entre instituições de ensino superior costumam causar dores de cabeça. Nem sempre as cadeiras freqüentadas em uma faculdade se encaixam com perfeição na grade curricular da outra entidade. A rejeição das disciplinas provoca, de imediato, dois desgastes para o aluno: a repetição de aulas assistidas e o adiamento da formação acadêmica. Isso quando não exige, ainda, o pagamento pelas mensalidades das atividades que o estudante é obrigado a participar se mudar para uma universidade privada.

A dificuldade já se tornou uma preocupação para o Governo Federal e o Ministério da Educação (Mec). Um decreto presidencial publicado em abril deste ano deu vazão a um projeto da União que pretende, em meio a outros pontos, ampliar e facilitar a mobilidade entre os universitários das redes federais. O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) se propõe a instituir diretrizes que permitam o aproveitamento dos créditos concluídos.

O dispositivo se aplica somente às entidades públicas do Governo Federal. Mas uma iniciativa de uma instituição particular de Pernambuco mostra que é possível estender um modelo que tem a essência semelhante às universidades pagas. A Faculdade de Ciências Humanas Esuda vem colocando em prática, desde 2005, um sistema que considera, ao máximo, as disciplinas cursadas nas universidades anteriormente freqüentadas pelos novos alunos.

O programa foi criado pelo professor Wilson Barreto e é chamado de Currículo Inteligente. Ele explica que o propósito da inovação é elencar diretrizes básicas pelas quais se decide se o recém-matriculado pode ou não aproveitar, na nova escola, o que aprendeu nos locais por onde passou. Em geral, diz ele, a tendência é pelo proveito das disciplinas que o estudante traz na bagagem intelectual.

A Faculdade defende que o Currículo Inteligente (CI) é pioneiro no País. De acordo com o seu inventor, o CI parte do pressuposto de que o mais importante é a noção que o aluno desenvolve a partir do assunto. Isso eliminaria, segundo Wilson Barreto, a necessidade de ele assistir a conteúdos que, sozinho, poderia aprender. Um exemplo ilustra melhor a teoria: “Se na faculdade que ele estudava, freqüentou aulas de História do Brasil, não há porque ser obrigado comparecer às salas para estudar História Geral. Quem faz a primeira cadeira é plenamente capaz de entender a segunda. O que interessa é que o estudante tenha a base do que significa estudar história”, explica. Ele diz que a postura do Esuda é adequar o que o aluno fez à grade curricular dos cursos que a universidade oferece. “O interessante é preservar o que ele tem”.

Beneficiada pelo novo método, a estudante de Arquitetura Renata Caribe finalmente enxerga no horizonte a chance de se formar. Desde 1999, ela vai às aulas. Mas o período letivo precisou ser interrompido por várias vezes: mudança com a família para a Bahia, nascimento de dois filhos e o retorno ao Recife. A cada matrícula, o embate se repetia.

E a conclusão se adiava. “Em Salvador, mesmo faltando poucos créditos, eu teria que passar mais de dois anos na faculdade. Ainda tive que fazer uma prova para validar as disciplinas. Perdi muitas cadeiras. Quando regressei ao Recife, só não tive dificuldade porque precisei conversar com a diretora. Até que desfrutei do sistema do Esuda. Foi ótimo”, contou. Renata se forma no final deste ano.


Método evita pagar por cadeiras

O novo método de enquadrar o aluno transferido, aposta o professor Wilson, ajuda a eliminar a prática adotada por várias universidades de atrasar a formação do curso por conta de uma recusa em aceitar currículos que elas não elaboraram. “E também deixam de faturar o que cobrariam a mais ao impor as cadeiras da grade”, acrescenta ele. O inventor do sistema, no entanto, diz que não é fácil estendê-lo a todos os cursos porque ainda há resistência entre coordenadores.

Para o professor, ainda há uma outra vantagem na adoção do Currículo Inteligente. “Quando o estudante deixa as aulas, ele leva no currículo não somente os créditos equivalente às cadeiras que cursou na faculdade pela qual se formou. Carrega, ainda, o conhecimento obtido em outras instituições. Exemplo: se ele fez engenharia em uma universidade, mas opta por transferir para direito, depois de chegar ao bacharelado terá registrado no currículo o que aprendeu sobre as disciplinas da primeira faculdade”, observou.

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