terça-feira, 21 de agosto de 2007

Meio ano depois, fardamento chega a escolas goianenses

Tiago Barbosa

Os alunos da rede pública de Goiana, cidade da Mata Norte do Estado, a 63 quilômetros do Recife, esperaram mais da metade do ano letivo de 2007 para ter a chance de freqüentar as aulas munidos do fardamento escolar. Eles começaram a ganhar, ontem pela manhã, um kit com camisas e shorts, além de mochila e material didático. O conjunto foi distribuído pessoalmente pelo prefeito do município, Henrique Fenelon, e uma comitiva que reuniu de secretários a assessores.

O grupo adentrou cada uma das salas das entidades de ensino municipais para entregar os produtos que deveriam estar de posse dos estudantes há mais de sete meses. O atraso foi justificado pela administração da cidade como conseqüência direta da demora no início das licitações, prejudicadas em função da mudança no comando de Goiana. Fenelon assumiu a prefeitura em meados de 2006, depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afastou do cargo o então prefeito Roberto Gadelha e o vice Marcílio Rego por abuso de poder econômico.

O atual chefe do Executivo goianense garantiu que, apesar do calendário escolar avançado, o material ainda terá utilidade para os alunos. "Os produtos poderão ser usados até o meio do ano que vem. Embora, em 2008, tenhamos que repetir o processo licitatório para conseguir mais materiais. As sobras deste ano vão ficar com os alunos que se matricularem no próximo semestre", explicou Fenelon. Para o prefeito, os kits escolares são valiosos porque "muitos pais de estudantes não têm condições de bancar as despesas com o fardamento".

Além disso, disse ele, a padronização da roupa "acaba com a diferenciação entre os alunos que podem e os que não podem". Todas as camisas, segundo o prefeito, foram feitas com material de primeira linha. Elas carregam o símbolo e o slogan da prefeitura - "Do jeito do povo" - estampados no tecido. Fenelon calculou que tenha sido gasto quase R$ 1 milhão na aquisição dos kits escolares - entre recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), do Governo Federal, e dos cofres municipais.

A prefeitura decidiu começar a distribuição do material pelas localidades mais distantes do centro de Goiana. A primeira contemplada foi a Escola João Gonçalves de Azevedo, que fica no distrito de Barra de Catuama, à beira do encontro do Rio Massaranduba com o Oceano, de frente para o Forte do Pontinho, em Itamaracá. A direção da escola montou um café da manhã para a chegada do prefeito e a comitiva dele.

As instituições de Catuama e Ponta de Pedras também foram visitadas pelos membros da prefeitura e ganharam os produtos escolares. O calendário da Secretaria de Educação de Goiana prevê que os kits sejam todos entregues nas 15 comunidades goianenses até a sexta-feira. "Esperamos deixar os alunos preparados para desfilar no 'Fest Banfas', quando antecipamos o nosso 7 de setembro em Goiana", observou a secretária Rose Mary Viégas.

Moradores reclamam ao prefeito

Mães de alunos da Escola Gonçalves de Azevedo e moradores de Barra de Catuama aproveitaram a visita do prefeito Henrique Fenelon para protestar. Reclamaram da quaildade do ensino na instituição e da infra-estrutura das vias da comunidade que, segundo eles, dificultam o acesso até as salas de aula.

A mariesqueira Miriam Barbosa se queixou pelo fato de que a filha dela, com sete anos e na 1á série do ensino fundamental, ainda não consegue ler. Disse ela que grande parte dos estudantes sofrem com o mesmo problema. "Ela não sabe, sequer, escrever o próprio nome", afirmou. Miriam também se mostrou indignada com a merenda que é servida às crianças - segundo ela, a melhor parte dos alimentos fica com professores e diretores - e com a suposta tentativa da direção da escola de não contar às mães sobre a visita do prefeito. "Foi para esconder as críticas", frisou. A cabelereira e artesã Suelen Carvalho se insurgiu quanto à ausência de uma passarela para facilitar o trânsito dos estudantes entre a Rua da Penha e a Rua da Lama. O trecho foi encoberto pelo avanço do mar. "As crianças têm que passar por dentro da casa dos vizinhos", afirmou.

O secretário de Articulação Política e Governo de Goiana, Ilo Jorge, rebateu as reclamações da população. Ele assegurou que, até o dia 15 de setembro, a prefeitura inicia uma obra para permitir a passagem dos alunos na rua atingida pelas águas. "Não adiantava nada construir na época de chuvas. Seria jogar dinheiro no lixo", explicou. Ilo comentou que o problema da educação deve ser observado dentro do quadro que há em Pernambuco. Ele lembrou que o Estado ocupa a rabeira dos rankings de educação em relação ao Brasil. "Mas estamos fazendo progressos com programas como o 'Alfabetização com sucesso' - para corrigir 80% do déficit da rede - e o 'Se Liga'", pontuou.

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